30.8.07

HOJE TEM


Uma homenagem feita por artistas diversos, intimados a criarem e experimentarem com liberdade é também um convite para se conhecer John Cage. São 95 anos de nascimento e 15 anos de desnascimento desse representante da música contemporânea que justificam essa celebração a ser realizada pelos poetas Ricardo Aleixo, Ana Caetano e Marcelo Dolabela hoje em Belo Horizonte.

+95-15=John Cage revela o alcance das influências desse “profeta da arte interdisciplinar”, como disse Augusto de Campos. Portanto, anuncia Ricardo Aleixo “nenhuma das performances vai fechar na área do artista responsável por ela”. E nesse palco vão estar reunidos os multiartistas Ana Caetano, Benedikt Wiertz, Antônio Loureiro, Izadora Fernandes, Letícia Castilho, Marcelo Dolabela, Marcelo Kraiser, Ricardo Aleixo, Sérgio Medeiros e Território Mudo. (tem um tanto sobre eles aqui)

A busca por interdisciplinaridade e uso de linguagens híbridas, uma marca da obra de Cage e um anseio da década de 60, é hoje uma realidade confirmada em cada um desses artistas. Influenciados por essa busca e legitimadores dessa linguagem artística contemporânea, juntos eles vão realizar performances e referenciar esse ícone da evolução musical do século XX.

No mundo ora um tanto hermético da arte contemporânea, John Cage poderia ser considerado uma referência “popular”? Ricardo Aleixo o considera tanto pop quanto popular e lança o convite pra conferir o vídeo de Cage em um programa de auditório americano. Uma experiência que “é o contrário da impenetrabilidade da arte contemporânea que a gente convive”, antecipa.

Com sua orquestra “caseira” Cage faz uma música fundamentada em ritmos, com o ruído no lugar das notas e toda a liberdade para que circulem sons do ambiente, dos objetos e do silêncio. Com movimentos simples e instrumentos bem “familiares” ele revela uma arte que não se separa da vida e por isso parte da sinfonia é composta também pelos manifestos da platéia. Como foi integralmente com a clássica composição 4’33’’, ela toda fruto do seu silêncio e das explanações do público.

Sem dúvidas, John Cage rompeu barreiras e não fez isso sozinho. Abriu caminhos na música e junto com outros artistas das artes plásticas, vídeo-arte, literatura e música experimentaram fusões e fundaram o movimento de arte neo-dadaísta de nome Fluxus.

A performance e as criações do poeta Ricardo Aleixo refletem passagens pelos caminhos trilhados por Cage. Ele conta da surpresa de americanos, em recente viagem aos EUA, ao descobrirem que no Brasil Cage também é visto como poeta. A referência é aos mesósticos, trabalhos gráficos do artista que Ricardo considera como uma estrutura das formas verbais com muita competência de linguagem. “É motivo para nós enquanto poetas nos aproximarmos dele. Poeta no sentido do uso da palavra, mas também dos desdobramentos desse trabalho que chega até a performance e a musicalização”.

Linguagens híbridas e especialmente happenings e performances adaptadas aos tempos de hoje estão na prática da intermídia proposta para a homenagem +95-15=John Cage que vai rolar nessa quinta, dia 30 de agosto, às 19h, na Sala Multiespaço da Oi Futuro (Av. Afonso Pena, 4001). Artistas de varias áreas vão tentar transcender o limite da linguagem a qual está identificado, apropriando-se dessa liberdade lançada por John Cage. É só chegar e conferir.

22.8.07

DE LÁ DE DIAMANTINA

Montanha de pedra
Moldura da vida
De Diamantina

E eu lá naquele festival de inverno sem frio

Num imenso céu
Apagaram-se as estrelas
Lua quase cheia

Quase haicais descobertos na trilha que teve Alice Ruiz como guia. Despertou curiosidade e interesse, ela que sabe dos pequenos versos, da grande poesia da vida.

Para terras mineiras ela veio de Curitiba. De São Paulo veio o poeta Antônio Cícero junto com os parceiros Ná Ozzetti (voz) e André Mehmari (piano), dentre outros de outros cantos do Brasil. A poesia e a canção paulista reunidas no Festival de Inverno da UFMG fortaleceram laços já existentes entre a terra do pão de queijo e a terra da garoa.

Este ano faltou apenas o inverno. Era a mesma Diamantina, invadida por mineiros, brasileiros, estrangeiros, subindo e descendo ladeira, participando da intensa programação do 39º Festival de Inverno da UFMG.

Na pauta dos “Territórios Híbridos – Linguagens Contemporâneas” o formato clássico de oficinas, mostras e eventos se repetiu sem cansar, com inovações no conceito do festival e também na lista de convidados para a programação.


Para quem passou apenas três dias na cidade, curtos e intensos dias, como a oficina de Haicai ministrada pela poeta Alice Ruiz, o olhar não foi tão longe, mas foi pra dentro, cabendo a síntese no show de André Mehmari e Ná Ozzetti .

Ele ao piano, ela toda voz. Caminhos interdependentes que surpreendem pela coesão. Ele recorta e cola melodias diversas, numa velocidade estonteante. Ela recria tudo e torna inédito o que antes se conhecia. Esse foi mais um show do trabalho Piano de Voz – André Mehmari e Ná Ozzetti registrado em CD e mais recentemente em DVD.

Nada se repetiu, nem mesmo o repertório refeito nos arranjos dos artistas e com algumas novas pérolas incluídas. Dentre essas, inevitável citar a inclusão da canção “Clube da Esquina 1” seguida da também mineira “Os povos” que arrancou aplausos infinitos do público e revelou uma intensidade artística que as palavras não alcançam.

A mistura “café com leite” - que fez história na república de um Brasil quase moderno – além de uma (deliciosa!) opção gastronômica, está se definindo também como uma parceria definitiva entre a música de Minas e Sampa. Odes, citações e composições conjuntas registradas em canções de artistas como Kristoff Silva e o seu novíssimo disco “Em pé no porto" e outros mineiros estão aí pra confirmar o dito.

Agora, há de se esperar os desdobramentos resultantes desse Festival. A nova geração da música mineira marcou presença nas oficinas, com destaque para Rafael Martini, João Antunes, Rafael Macedo e Antônio Loureiro, dentre outros que participaram da oficina de André Mehmari. Outros laços foram estreitados na oficina de Ná Ozzetti, “A voz como instrumento de expressão” com a participação das cantoras Leonora Weissmann, Ana Hadad e Leopoldina, que registrou o momento no seu blog Mundo Música S/A. Clica lá pra saber como foi e então aguardar o que virá.

5.8.07

'SINGULAR' NA COLÔMBIA


SINGULAR EM 250 PALAVRAS

A possibilidade da arte na transformação da sociedade. O artigo “Singular” busca tratar dessa questão cada vez mais recorrente em ações sociais no Brasil e no mundo. Quais são os conceitos que embasam essa tendência? A arte é um meio ou um fim? As transformações necessariamente representam melhorias no desenvolvimento humano? Partindo do conceito do ‘singular’ no universo artístico, que pode ser entendido como uma busca e um meio de se acessar subjetividades e identidades para que mudanças interiores e individuais possam se irradiar sobre o coletivo, o artigo problematiza que a resposta pode ser sim e não. Arte para instigar novos comportamentos ou para fortalecer estruturas de pensamento dominantes e cristalizadas – as ações que carregam o sobrenome de “Arte e Cidadania” precisam ter consciência dessa possibilidade, da via de mão dupla que a arte também abriga e podendo se adequar a diferentes objetivos/interesses.

A argumentação teórica surgiu inspirada nas ações práticas desenvolvidas em Belo Horizonte/Minas Gerais, com o Grupo Cultural NUC, formado por jovens moradores de periferia que se organizaram e desenvolvem projetos artísticos com enfoque no movimento hip hop. Fraquezas e fortalezas inerentes à essa iniciativa sócio-cultural, acompanhada de perto, num processo participativo e colaborativo tornam-se um reflexo prático da discussão teórica promovida no artigo “Singular”. Apresenta-se aqui um diálogo entre as idéias do filósofo e multipensador Félix Guattari e do conceituado rapper brasileiro B Negão, ambos propondo mudanças comportamentais, convidando à reflexão do despertar da consciência crítica e criativa que pode ser motivada pela arte.

O artigo Singular foi apresentado no Congresso de Formação Artística e Cultural para a América Latina e Caribe, na mesa “Educação artística, Sociedade, Convivência e Desenvolvimento Humano”, dia 08 de agosto de 2007, em Medellín, Antioquia, Colômbia.