23.7.07

AUTÓFAGO ESTÁ NA RUA

Makely é desses que conhece bem as etapas da cadeia produtiva, se apropria dos processos e faz de tudo. De tudo mesmo: da gravação à distribuição do seu trabalho. Não que isso seja bom, se não qual o sentido desse texto de apresentação?
Mas também não é exatamente ruim, pois conhecendo e se alinhando às diferentes etapas do processo dá pra ir mais longe com as parcerias. Como vem sendo:






Autófago está na rua

Um “pop” que suporta o peso da poesia crítica de Makely Ka. Autófago traz essa revelação. Makely na evolução de sua carreira solo, construída com base em experimentações e em produtivas parcerias. Pop que não é raso, não tem pressa. Expressa com letras e ritmos todo o anseio do lado de dentro, de quem segue o caminho desse amplo mundo vindo com o novo tempo que ele avista, compreende e critica.

Aposta no suporte simples que sustenta e valoriza sua rima. Música a favor da poesia, poesia a
serviço da música. Arte convidando a uma ‘Endoscopia’, a um posicionamento – aversão à mídia vazia, à apropriação ilimitada das informações.

Infinidade de possibilidades. A criação de Makely Ka se apropria bem disso e não é apenas isso. Na esteira dos artistas que vieram antes e registraram a emoção de uma época em princípio de transição – aí se encontra Torquato Neto, Jorge Mautner, Wally Salomão, Paulo Leminski e outras referências inerentes – “Autófago” vem dizer do seu tempo, do processo “auto-digestivo” de informações tantas e diversas existentes e presentes na obra musical de Makely Ka.

Prática de autofagia (ponte de) música de sentidos, trilha que leva o círculo ao espiral – caminho de ida às voltas. Poeta do dia-a-dia na realidade vazia. Diálogo na era da surdez coletiva, convite para explorar a diversidade brasileira nas letras e melodias, ambas de sua autoria. Recortes e fragmentos, retratos musicais deste nosso novo tempo velho em idade, zerado em referências, perdido entre as leis reguladoras e a liberdade esfuziante das novas tecnologias. Dinâmico e coeso, “Autófago” transita em conflito e harmonia com esse tempo.

Makely, aquele que canta, compõe, escreve, se auto-produz, multiplica ações, encara e confronta o contexto, se impõe na dureza, se faz entender pela clareza de sua expressão. Em versos e canções, experimentando formatos e planos de ação Makely evoluiu no seu discurso e finalizou um produto cultural irretocável. “Autófago” está na rua.

17.7.07

RECRIANDO A INDÚSTRIA

Um dia veio a indústria cultural, famigerado conceito que surgiu em meio às teorias filosóficas dos alemães Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, da Escola de Frankfurt, apontando o que seria mais uma forma espúria de se reforçar os valores do capitalismo.

“O rebaixamento do nível da criação humana e a transformação das manifestações mais nobres do espírito em banalidades comercializáveis” eram as indesejáveis conseqüências desse processo. Nesses tempos em que a arte é produto descartável e os artistas reprodutores de fórmulas cristalizadas pode-se perceber a prática legitimando essa teoria.

Mas tudo é indústria e ela mesma, e seus substantivos complementares, a começar pelo capitalismo, sugerem um processo tão estratégico que nunca se encerra: ela se recria, se adapta e ainda assim predomina.

Acrescente-se à essa lógica mutável e dinâmica, a criatividade da arte. Pois bem, esse “detalhe” tem viabilizado ações coletivas rumo a uma recriação de processos e a sustentabilidade da cena da música independente.

Sustentabilidade que vem da consciência das diferentes etapas que precisam ser executadas. Da compreensão da lógica da indústria cultural que se compara à Cadeia Produtiva da Cultura, com as suas etapas organicamente relacionadas de forma que a ordem dos fatores pode até se alternar, mas os resultados sempre levam ao consumo, que estimulam novas criações, e por aí vai.

Hoje, a indústria cultural tem ganhado novas definições e releituras, algumas delas apresentadas por Enrique Saraiva, coordenador do Núcleo de Estudos em Gestão Cultural da FGV/Rio, na comunicação “Notas sobre as Indústrias Culturas”, publicada na Revista Observatório Itaú Cultural.

Nas referências citadas no texto com as derivações sobre o que é indústria cultural ele cita que em todos “aparecem, implícita ou explicitamente, três elementos permanentes: o ato de criação, o suporte tecnológico para sua difusão e o seu lançamento no mercado”. E é justamente a “integração dinâmica desses três elementos que constitui a essência da indústria cultural”.

Esses três elementos são sinônimos das etapas organizadas da cadeia produtiva: produção, circulação e difusão. Etapas que contemplam o trabalho dos artistas e também dos jornalistas, dos produtores, dos patrocinadores, do poder público, dos empresários, do público-alvo, da população de massa, na teoria relacionados, na prática do mercado independente por hora um pouco desarticulados.

Todos essencialmente participantes e geradores da cadeia produtiva, iniciada por artistas que antes nem tinham compreensão de todas essas etapas e agora não só a compreendem como alguns também a executam do início ao fim. "Se o poeta não escrever seu poema, a indústria cultural inexistirá".

Pode ser assim também, mas seria mais eficiente ter os espaços ocupados por diferentes atuando de maneira integrada e complementar. De preferência que sejam espaços apropriados por profissionais que fazem do ofício uma arte, com criatividade suficiente para aplicar doses de autenticidade à lógica mecânica, mas vitoriosa, das indústrias, neste caso culturais.

A comunicação de Enrique Saraiva na rede

7.7.07

EM CENA

Uns olhares vieram de fora contribuir coletivamente com o esboço de uma cena da música mineira, aquela que um dia se delineou e seguiu se constituindo aos poucos, como micro-coletivos isolados, talvez por isso enfraquecidos. Veio assim à vista essa cena, logo depois das discussões que rolaram no Stereocubo, programa de debates do projeto Stereoteca que em 2007 trouxe pra pauta o tema “Música daqui pra frente” e como referência o Espaço Cubo, um coletivo muito ativo que fez a cena rock do Mato Grosso despontar nacionalmente.

Veio junto com esse coletivo a percepção dos pilares que fazem um mercado cultural acontecer direito, com direito a tudo o que determina a cadeia produtiva da cultura. Uma lógica do mercado acrescida de toda a liberdade criativa da arte. É assim que eles fazem: entendem de processos e se permitem chegar a soluções criativas para que a produção artística siga bem aventurados rumos, Brasil afora, ou melhor dizendo, a dentro.

Como a moçada não para de fazer a coisa acontecer (é dinâmico mesmo) siga os atalhos e descubra na rede tudo o que eles fazem por aí. Aqui algumas idéias, desdobramentos da intensa temporada de debates que rolaram em terras mineiras, eles contando de lá, trocando com a gente aqui, botando pilha no processo.




A princípio pitadas de influências do centro-oeste do Brasil, de onde eles vêm, e do norte, onde eles mantêm várias articulações. É um processo diferente visualizar eles que são como a gente à frente de iniciativas muito criativas, coletivas e talvez por isso muito viáveis. Primeiro as referências, pra ajudar a juntar os fatos. Na seqüência, o encontro de muitos de Minas que estão na mesma, ali juntos em torno de um mesmo assunto – foram 6 mesas de debate que buscaram cobrir as diferentes etapas do trabalho com a arte e a cultura, à frente delas profissionais daqui e de outros cantos do país - dá uma olhada na programação.

Depois disso o link, a interseção entre fatos comuns, a mesma juventude, os mesmos “tempos de cólera”, o mesmo pique, particularmente várias oportunidades, bem como específicos buracos a serem preenchidos. Levantada toda a poeira, o arremate veio certeiro. Em terra que fez Reciclo Geral, tem Música Independente, Stereoteca e Conexão, tem produção ativa e potencial, onde tem Rádio Inconfidência e Rede Minas de Televisão com comando profissional e os músicos já se organizaram em associações, a costura tá no ponto de começar.