30.12.08

qbpd


qUEbRApEdRA é também assim que se escreve qbpd . quase a mesma letra variando de posição. Um canto de pássaro uma canção. Um jogo de letras uma combinação de arranjos. Arte em todas as direções. Música da nova geração.

Leonora Weissmann pega o tom, Rafael Martini ajusta os “volumes” e rege ao piano a orquestral banda com Pedro Maglioni (contrabaixos), Mateus Oliveira (vibrafone, marimba, bateria e percussão) e Edson Fernando (bateria, vibrafone, steel drum e percussão) que no disco e no show de lançamento tocam acompanhados também de convidados nas flautas, sax, trombone, fagote, clarineta e outros. A prática em conjunto faz parte da experiência musical da maioria dos os músicos do qbpd que paralelamente também compõe a Misturada Orquestra, formada em grande parte por ex-alunos da Escola de Música da UFMG.

Para o canto desafiador requerido pela base musical, a trilha da poesia. A cantora Leonora Weismann é autora de grande parte das letras das canções do qbpd, que são como uma poesia realista e subjetiva com versos lançados aos arranjos musicais e cantados com sílabas estendidas no tempo. Sua voz encontra ‘familiares’ na música brasileira, como Elis Regina, e também mineira, como Leopoldina, mas é própria, de uma limpidez e potência que se intensifica com sua interpretação no disco e no palco e com toda sua trajetória artística de pintora, cantora e poeta.

O disco de estréia do qUEbRApEdRA lançado em 25 de novembro, em Belo Horizonte, traz 12 faixas autorais, assinadas pelos integrantes da banda e também por compositores contemporâneos como Egberto Gismonti, Kristoff Silva, Makely Ka, Antônio Loureiro, Dudu Nicácio, Renato Motha, Felipe José e Alice Bicalho.


A música complexa e extremamente elaborada do qUEbRApEdRA é instigante e intensa e referencia grandes compositores da diversificada música brasileira, aí se ouve Tom Jobim, Egberto Gismonti, Milton Nascimento, Arrigo Barnabé, Edu Lobo, Maria Schneider, André Mehmari, Na Ozzetti, dentre outros. Às influências presentes no disco, acrescenta-se a dose exata de autenticidade criativa e ousada destes artistas geniais que confirmam a força da música produzida nas Gerais.

Como um retrato a revelar a pincelada colorida da alvorada no horizonte, a chegada do (no) Tangará, a canção do qUEbRApEdRA surpreende e inquieta. O investimento na formação musical arranjada com piano, vibrafone, sopros, baixo, bateria e percussões intensifica as composições e transporta os ouvintes para o ambiente da música ou o inverso, a música corresponde inteiramente ao momento presente de cada jovem contemporâneo.

Sempre as duas coisas e outras mais. É disco pra desbravar, o encarte, a poesia das letras, o resultado que dá tantos músicos reunidos, fazendo música nova. Correspondência de sentimentos e sentidos – sintonia de tempos – o cantado e o vivido.


Esse disco é uma pérola, escuta lá! Fica a dica de presente de fim de ano da ora boa pra você que sempre esteve aqui neste 2008. Pro novo ano: desejo de desejos realizados!

foto e pintura de Leonora Weissmann

26.11.08

'ÁFRICA GERAIS'


Nossa Senhora do Rosário era santa branca, vinda de Portugal. No Brasil ela surgiu como lenda, no meio das águas, como uma iluminação. Foram muitas as tentativas para tirá-la da água e enaltece-la em um altar. Era tempo da escravidão, quando os novos moradores do Brasil-colônia, cada um oriundo de um canto estabeleceram suas relações. Uns vindo para dominar, outros dominados buscando preservar o que traziam por dentro. Cada um com sua crença e, naquele momento, uma santa para trazer para perto.

De todas as tentativas, a atendida foi a prece com cantos e tambores puxada pelos negros, com sua reza própria, festiva e rueira. Ela veio e foi assim que Nossa Senhora do Rosário se tornou sua padroeira, a santa branca, protetora dos escravos, um elo simbólico do sincretismo no Brasil, onde os negros encontraram na Igreja Católica uma forma correspondente de celebrar a sua fé, da sua forma, assim respeitada pela santa católica. O Reinado de Nossa Senhora do Rosário então se formou entre descendentes dos escravos no Brasil, especialmente em Minas Gerais, interior de Goiás e Espírito Santo, sendo popularmente conhecido como Congado.

Este mito fundador do Congado é o ponto de partida de um processo artístico realizado entre integrantes de cinco Irmandades de Congado das cidades de Contagem e Oliveira, interior de Minas. A proposta desenvolvida pelo diretor e autor de teatro João das Neves e pela cantora Titane, resultou no projeto-espetáculo “A Santinha e os Congadeiros”, que enfoca o viés artístico desta manifestação religiosa e cultural e paralelamente valoriza e fortalece essa tradição secular.

“O congado é uma manifestação da religiosidade que se faz ver a partir de uma manifestação artística com canções, tambores e bandeiras conduzindo sua religiosidade”. A visão de João das Neves é compartilhada por Titane e por diversos outros artistas que referenciam a cultura afro-mineira em suas criações, incorporando instrumentos, cantos e outros elementos do Congado. Essa apropriação, fruto do contato de diferentes culturas e formas de expressão, é cada vez mais freqüente no mundo contemporâneo onde os limites da diversidade estão cada vez mais próximos.

João das Neves e Titane tem um histórico de interações com a cultura popular e especialmente com o Congado, “apropriado” nos discos Inseto Raro e Sá Rainha e outros trabalhos. Desta vez, com o projeto “A Santinha e os Congadeiros” os parceiros estabeleceram um processo inusitado: integrantes das guardas encenam a si próprios. Uma apropriação ao inverso ou no mínimo uma ação diferenciada, em que o processo artístico desencadeia também um elo dos jovens integrantes com a tradição, e uma valorização pela sociedade desta herança afro-brasileira.

Da mesma forma que Nossa Senhora aceitou “os negros como eles são, cantando, dançando, cultuando do seu jeito”, como afirmou Pedrina Santos, Capitã da Guarda de Moçambique Nossa Senhora das Mercês, de Oliveira, os artistas envolvidos na formação do elenco para a montagem do espetáculo “A Santinha e os Congadeiros” se fundamentaram nas particularidades dos integrantes das guardas. “Nosso trabalho não é para mudar o jeito de cantar ou para mudar os significados, mas para mostrar como é”, registrou Titane, que coordenou o projeto e a preparação musical do elenco.

A criação conta com elementos identitários dos participantes. A tradição se expressa pela arte, se comunica de outra forma com a mediação de João das Neves: “O caminho do artista é geralmente conhecer e beber de uma cultura para criar o seu trabalho. Neste caso, os artistas vão até a cultura e ela própria cria o seu trabalho artístico”.

A interação entre artistas e integrantes da guarda gerou o espetáculo “A Santinha e os Congadeiros”, apresentado nos dias 15 e 29 de novembro, em Contagem e Sete Lagoas, interior de Minas Gerais. O processo de montagem da peça desencadeou um contato com arte por meio da tradição que despertou em integrantes da guarda um novo interesse e uma conseqüente valorização desta tradição.

“A cultura negra é essencialmente festiva e rueira. A festa do Congado antes era perseguida, hoje é assediada. Este é um novo tempo, que exige outro comportamento dos capitães das guardas seculares de congado”. João das Neves aponta para o que Jorge Antônio dos Santos, da diretoria de eventos da Comunidade dos Arturos confirma: “Esse projeto é uma forma diferente de mostrar essa história. É um meio de manter a juventude, despertar e valorizar os jovens. Eles se sentem valorizados e valorizam a tradição. É um outro meio de preservar, manter e dar seqüência à nossa tradição”.

fotos joão castilho . design gráfico denis leroy

Para quem acompanhou: o post que estava em construção virou colaboração para a revista Continuum, do Itaú Cultural. Visita lá. Aproveite e conheça mais sobre a revista aqui mesmo.

27.10.08

PERDIDA NA FLORESTA PREDIAL


A chegada é junto com o sol. Os primeiros raios são avistados brevemente, até que o metrô adentra o subsolo e por um bom tempo lá permanece. Na troca de estação o segurança de olhos arregalados e postura ereta volta para casa depois de mais uma balada.

No destino de desembarque, emergir das profundezas do subsolo é por instantes como perder a referência do chão, metros abaixo avistando metros acima. Na Avenida Paulista pouco tempo no solo se fica. Do subsolo para ir acima do décimo andar ou andar na rua sob um chão que esconde o vão por onde passam os trens.

Em São Paulo o assobio anuncia a chegada, mas o metrô só surge mesmo quando é seguido de um vento de embalar os cabelos. Se não, está passando no piso debaixo do prédio subterrâneo de trens que cortam (quase) todos os lados dessa cidade que é igual a todas, porém enoooorme perto dessa Belo Horizonte onde o metrô segue a Serra do Curral e no sentido leste-oeste desfila a cidade toda à vista.

Nas redondezas da Consolação a manhã se confunde com o fim de noite. É recorrente o desvio dos cambaleantes jovens virados, tentando voltar para casa ou concentrados no Bella Paulista, espaço de alimentação aberto 24 horas por dia. Lá os opostos se encontram: uns pernoitados e outros despertando para um dia de labuta.

A parada alternativa é na praça Benedito Calixto, onde o ritmo dos senhores montando as primeiras barracas da feira é mais condizente com o dia de estudo que se avista. São eles as mais recentes companhias do desayuno semanal empreendido em São Paulo, em meio às raridades de tempos passados expostas nessa feira tão tradicional.

Ponto de encontro como o Bella Paulista passou despercebido em terras mineiras onde o correspondente é um misto dos dois lugares. Na deliciosa praça de Santa Tereza, como diria aquele paulista mineiro agora carioca Israel do Vale, o hábito é ver o sol nascer atrás do rochedão, com tropeiro e macarrão do Bar do Bolão.

Nesta rotina São Paulo vem se desvendando por ora pouco atrativa, não somente a capital paulista, mas o padrão que se repete nas grandes cidades, com suas estruturas grandiosas e o olhar vazio dos transeuntes como que condicionados, repetindo passos, lançando mão de seu destino. Um sábado assim em Sampa se equivale a um dia útil em Belo Horizonte que vai às cegas, seguindo esse mesmo rumo, se perdendo e transformando-se em uma entristecida floresta predial.
foto emprestada da cia de foto

25.9.08

DE OLHOS BEM PUXADOS


O Eletronika – Festival de Novas Tendências Musicais, chegou à sua sétima edição em 2008 celebrando o Centenário da Imigração Japonesa. A escolha dos artistas, as ações paralelas aos shows e toda a identidade visual do Festival levaram em conta o diálogo intercultural entre Brasil e Japão, sem perder de vista a busca pelas novas tendências em todo o mundo.

A programação foi marcada pelo ineditismo e pela diversidade de atrações, sendo que o festival reuniu shows musicais, festas, mostra de cinema e debates, conquistando com isso um público amplo e diversificado, que variava de acordo com o perfil das atrações.

A noite de estréia do Eletronika apresentou uma artista mineira de peso no cenário nacional e contou com presença de grande público. Fernanda Takai, vocalista da banda Pato Fu tem conquistado adeptos diferentes com seu disco solo “Por onde brilhem os olhos seus”. Ao regravar Nara Leão a cantora conseguiu reunir na platéia diferentes gerações.

Mas seu show causou grande impacto mesmo pela presença da cantora convidada Maki Nomiya, da banda Pizzicato Five. Ícone da música pop japonesa, Nomiya cantou a canção “O barquinho”, em japonês com Fernanda Takai que por sua vez a acompanhou na divertida Twiggy Twiggy, com refrões e coreografia e também na música Sweet Soul Revue, ambas hits do Pizzicato Five, banda da qual Nomiya foi integrante. A presença de Nomiya chamou a atenção da mídia nacional para o festival, rendendo matérias no Caderno 2 d’O Globo e extrapolando as pautas de cultura, chegando à sessão de moda do site da Abril, dentre outras.


Em noite de estréia do Freak Show em BH, a rainha-freak-mor estava no palco do Eletronika.
Sen-sa-cio-nal!

O Vanguart, banda de rock vinda do Mato Grosso e despontando no cenário nacional foi a segunda banda da noite, que se apresentou para um público bem mais reduzido, que dispensou as cadeiras e se aglomerou em frente ao palco. Bem jovens, os músicos encabeçados por Helio Flanders, apresentam um som folk rock com versões em inglês e português. A banda nascida em 2002 participa dos principais festivais do Brasil, espaço que vem conquistando de maneira independente com EP’s e um disco de estúdio lançados e com o bom uso da tríade: internet, festivais e shows agitados que garantem um público crescente para a banda.

O fluxo de pessoas reduziu bastante no segundo dia do festival. A isso pode-se atribuir duas coisas, dentre outras, que estão interligadas: o perfil das atrações e o preço dos ingressos. Esses dois fatores associados podem ter causado uma baixa no público que gerou a indagação do músico Curumin, no acender das luzes: “Boa noite BH! Cadê BH?”.

Curumim e Instituto são grandes artistas da música alternativa brasileira, representantes do groove, dub, hip hop e rock brasileiro. Ambos do estado de São Paulo vêm desenvolvendo uma experimentação sonora com ritmos brasileiros e eletrônicos. No circuito alternativo, estes artistas têm um público cativo, mas que não marcou presença em peso no show, sendo provável que uma das razões seja o valor do ingresso (50,00 inteira e 25,00 meia - atrações do Grande Teatro e 20,00 inteira e 10,00 meia – show Sala João Ceschiatti) que restringiu o acesso ao público jovem em geral. Em nenhuma noite do festival houve lotação completa do espaço.

No que tange ao acesso à diversidade e bens artísticos, porém, o Eletronika inovou, trazendo referências mundiais, como a cantora e compositora japonesa Maki Nomiya e a banda indie nova-iorquina Asobi Seksu, atrações que, não fosse o Festival, provavelmente não chegariam a Belo Horizonte.

A presença do público foi maior nas noites com atrações mais pop, que estão na grande mídia e nos principais sites da internet, como Fernanda Takai e o fenômeno teen Mallu Magalhães, que se apresentou no sábado, quando também tocaram Hurtmold, com participação do músico Paulo Santos, do grupo Uakti (!), de Belo Horizonte, e a banda Asobi Seksu. Nesta noite o Festival Eletronika recebeu o seu maior público.



O Eletronika gerou uma ocupação diferenciada do Palácio das Artes, principal centro cultural da cidade de Belo Horizonte, com Grande Teatro, cinema, galerias e teatro para públicos menores. Abrigando um evento totalmente diferente dos padrões tradicionais, a agitação alternativa gerada pelo Eletronika no Palácio das Artes confirmou a versatilidade deste centro cultural que tem uma estrutura adequada para eventos de variados portes e para abrigar diversas expressões artísticas.

Bom por um lado, questionável por outro. Músicas pop, pouco elaboradas harmonicamente e que geralmente são dançantes, em alguns momentos destoaram do ambiente formal do teatro e suas cadeiras fixas. Em compensação, foi única a possibilidade de transitar entre os espaços, sair do show com liberdade para tomar uma cervejinha em um ambiente lounge e retornar quando quiser.

Além do espaço do Grande Teatro, a sala João Ceschiatti foi palco de seis outros shows, que aconteceram na sexta-feira e no sábado em horário anterior às atrações principais. Se apresentaram as bandas Guizado, Pop Armada e M. Takara, de São Paulo, PexbaA e Monno de Minas Gerais e Macaco Bong, do Mato Grosso.

O Festival Imagem dos Povos 2008 – Mostra Internacional Audiovisual veio fortalecer a temática do evento, com a exibição de filmes e debates gratuitos em torno da temática “Japão, Amazônia, Minas Gerais”. Para quem não freqüenta os sempre badalados redutos da música eletrônica e independente da cidade, o Festival Eletronika foi uma boa opção para ver um pouco de tudo e especialmente para se surpreender com a produção musical nipônica.

trechos da análise elaborada para a disciplina de 'organização de eventos' do curso de pós-gradução em gestão cultural da USP, sobre o eletronika - festival de novas tendências musicais, que aconteceu em belo horizonte entre os dias 25 e 27 de setembro em BH. adaptado de lá pra cá

23.9.08

PRIMEIRA ERA


"A primavera é quando ninguém mais espera
E desespera tudo em flor
A primavera é quando ninguém acredita
E ressuscita por amor"


tela de van gogh e letra de zé miguel wisnik (escute essa canção!)
para comemorar o início de mais uma nova era

22.9.08

FURANDO FILA




Outros posts estão sendo elaborados (sem pressa, naquele tempo bom...), mas neste blog onde evita-se a primeira pessoa e as dicas rápidas, também existem exceções. Isso para que você caro leitor que curte uma música da boa, possa aproveitar as mais novas notas musicais.

Novidades na área: Camille inovando mais uma vez e Rodrigo Amarante rompendo as fronteiras geográficas. Ambos esbanjando talento e explorando em inglês novas possibilidades criativas.

Ela está com um site incrível que vai de encontro às suas experimentações artísticas. “Music Hole” revela os potenciais de uma artista em permanente inovação, que neste caso foca nas experimentações vocais, tendo como convidados especiais do disco os brasileiros do Barbatuques (!), além do inglês Jamie Cullum.

Rodrigo Amarante aposta em Little Joy, banda que formou com Fabrizio Moretti, da banda The Strokes e faz um som que é uma “mistura retrô entre os rockinhos do Los Hermanos e uma versão mais lo-fi de Strokes”. De acordo com o resumo de Marcelo Santiago: muito bom! Ouve lá ou baixa aqui.


Depois conta aqui o que você achou?



Tem mais sobre a Camille aqui no blog.

8.9.08

OLHO MÁGICO


Descobrir os sentidos da vida no acaso. Transmitir através de janelas digitais o mundo em forma de arte. Inspiração? “Vem com o outro, é tudo aquilo que não está em mim”. As ferramentas são a fotografia, vídeo, cinema, todos reunidos na instância maior das artes plásticas. Uma multiplicidade de formatos. Assim é o universo do artista visual Cao Guimarães.

O laboratório de azulejo branco na casa do avô, em Belo Horizonte é a lembrança viva do fascínio despertado pela revelação das fotografias e do desejo insuperável de ver as imagens proibidas daquele arquivo médico. Aprendizado e suspense que inspiraram seus primeiros trabalhos, como a primeira exposição, realizada no Itaú Cultural em 1990: “As imagens eram muito impregnadas, mórbidas. Uma época meio dark, eu era jovem, e tinha uma coisa de esconder as imagens, de sobrepor camadas e camadas de imagem na fotografia, para que a realidade desaparecesse em partes”.

Em 1996, Cao Guimarães se mudou para Londres com a mulher – e também artista plástica – Rivane Neuenchwander. Lá, teve acesso a super 8, câmera digital prática e acessível, que se tornou seu instrumento de trabalho. “Em Londres, tinha o filme e a revelação que não existem no Brasil. Havia diferentes tipos de câmeras e até clubes de “super oististas”, onde era possível montar o filme. Eu comprei a câmera de vídeo e filmava o cotidiano daquela cidade, poesia... Você está distante das pessoas que gosta e passa a ter uma visão de fora do seu país, um olhar melancólico pela cidade”. Esse sentimento deu origem a dois trabalhos, “The Eyeland” (Terra do Olho), que remete à ilha da Grã-Bretanha, mas é um trocadilho, uma brincadeira com a palavra ilha, e “Between”, um inventário de pequenas mortes.

Vídeos e instalações trabalhadas no formato digital caracterizam o trabalho de Cao Guimarães. Com esse recurso, ele explora o mundo das mais variadas formas, transformando simples coisas da vida em arte e reflexão. Trabalhos como “Word World“ e “Hypnosis”, têm como protagonistas o trabalho das formigas em busca de doce, o primeiro, e as danças das luzes de um parque de diversões, o segundo. Situações que muitas vezes passariam despercebidas transformam-se em inspiração aos olhos do artista.


No final de 1998, Cao retornou ao Brasil. Um reencontro com a pátria e com novas inspirações. “Quando eu voltei pro Brasil tive a deliciosa sensação de redescobrir o País. Ou seja, o fim de toda aquela sensação de exílio, melancolia da distância”. Dominando as técnicas do super-oito, e da edição não linear, ele partiu para o interior do Brasil à procura de personagens que trabalhavam com profissões extintas, como ascensorista, tocador de sino e parteira.

Ao lado dos parceiros Lucas Bambozzi e Beto Magalhães, ele chegou ao “Fim do Sem Fim”, longa metragem que retrata, entre outras coisas, o povo brasileiro. As filmagens duraram um ano e dois meses, com uma equipe de apenas cinco pessoas. Na verdade, foram muitas mais, até encontrar pessoas que compartilhassem de uma mesma harmonia estética para completar o trabalho. Cao lembra, O Grivo, grupo de música experimental responsável pela trilha sonora de todos os seus filmes: “Eu sou o olho e eles são o ouvido. Isso é o cinema, a imagem e o som”.

Mas nem tudo é imagem em movimento. Em 2001, o artista lançou o livro Histórias do Não Ver, relatos de vários dias em que simulou um seqüestro e fotografou com os olhos vendados. Esse trabalho, apresentado também no formato de instalação, ganhou o Prêmio Aquisição no XVII panorama de arte brasileiro, no MAM (Museu de arte moderna) em São Paulo.

São muitas as referências para conhecer Cao Guimarães e muitas indicações de quem entende do assunto. Os vídeos narrativos “The Eyeland” e “Between” receberam o Prêmio Especial na IV Mostra do Museu de Imagem e Som, realizada em São Paulo em 2000. A instalação “O Sopro” foi vencedora do prêmio” É Cinema”, no segundo Festival Brasil Digital. “O Fim do Sem Fim” ganhou o prêmio” Renovação de Linguagem” em Marseille, na França e o” É Tudo Verdade, no VI Festival Internacional de Documentário. Enfim, um reconhecimento que levou seu trabalho aos quatro cantos do mundo.

Artista em constante renovação, Cao Guimarães não para. Em 2002 lançou o vídeo “Inventário de Raivinhas” e outros trabalhos que você acessa no site. Em 2004 o documentário ”A Alma do Osso”, vencedor do É Tudo Verdade, inaugurou sua trilogia sobre a solidão. “Andarilho” é o segundo da série, em cartaz no Usina Unibanco de Cinema, premiado como Melhor Direção, no Festival do Rio, em 2007; Melhor Filme no Forum.doc, de BH e selecionado para o Festival de Veneza, em 2008. Encerra a trilogia um filme sobre as multidões, que está em fase de produção. Tem que ver e por um olho mágico, descobrir a surpresa reservada para o outro lado.


O texto é de 2002 e o convite é para agora. Duas oportunidades para conhecer parte da obra de Cao Guimarães: Andarilho, em cartaz no Usina Unibanco de Cinema e exposição de artes plásticas no Museu de Arte da Pampulha. ‘Olho Mágico’ foi elaborado para a quinta edição do SOM – Informativo da Fundação de Educação Artística, em 2002. A estréia primeira no jornalismo fica aqui registrada (e brevemente atualizada) para não perder o fio da meada.

imagem 'andarilho' de cao guimarães

31.8.08

FREAK FAKE


Totalmente fake mas deliciosamente divertido. Freak Show de Calouros estreou quinta-feira passada, dia 28 e vai rolar toda última quinta-feira do mês no Tuba in Cineclube, festinha semanal que acontece no Cineclube Savassi.

Trata-se de um Show de Calouros com tudo o que se tem direito: etapas eliminatórias, apresentadores num figurino daqueles, jurados, vinhetinhas dançantes, prêmios e... corajosos calouros que encaram a missão de interpretar canções punk rock executadas pela banda base formada pelo P.R.O.A.

Freak Show é comandado pelas “Organizações Pinochet”, a mais nova invenção de uma dupla mineiríssima que, no melhor estilo come-queto, cria um verdadeiro rebuliço nas (longas) noites undergrounds belo-horizontinas. Baiano e Trotta como são conhecidos os músicos do Proa, seguem sob o velho lema do “faça você mesmo” e junto com Danielzim (que completa a banda Proa), Jack S1ngle e Cat criam boas novas como essa.

Com eles é assim, você quase não vê um flyer circular ou uma matéria no jornal, no rádio ou na tv. Mas as festas estão sempre agitadas, com punk, rock, olds e afins na pista e o público ocupando até o topo os principais inferninhos da cidade.

Obra do Tuba-in inclusive inaugurar o mais novo espaço alternativo de BH: o Cineclube Savassi que, com uma programação audiovisual especial pra telona e com um pouco mais de ar (ufa!), ficará top de linha.

No Freak Show todo mundo pode se inscrever, não há pré-requisito, mas para subir ao palco do Show de Calouros é preciso ser aceito pelos comandantes das ‘Organizações Pinochet’. Dos quatro candidatos por noite saí um vencedor que, ganhando a final será premiado com um disco demo, produzido no Estúdio Indiada Magneto e uma estadia no Othon Palace de Araxá, com direito a acompanhante.

Curtiu? Então inscreva-se pelo youtubain@gmail.com e prepare-se para revelar o seu talento e encarar a platéia e os jurados do mais novo show de calouros de BH. Divirto até o fim.

divulgação + foto PROA por paula fortuna

13.8.08

COM ENTENDIMENTO


Uma ação para os jovens. Foi essa demanda sugerida pela comunidade que gerou a iniciativa do Instituto Kairós de propiciar uma experiência com comunicação comunitária para os jovens moradores de Macacos, distrito de Nova Lima.

Para o grupo em formação, a necessidade de apresentar caminhos e provocar nos jovens escolhas sobre qual peça de comunicação será interessante desenvolver num projeto de aprendizado e produção prática.

Da minha parte, isso representou a estruturação de um módulo de sensibilização sobre o universo da comunicação para jovens de 15 a 25 anos, para a partir daí eles darem prosseguimento ao trabalho. A proposta da oficina realizada no dia 31 de julho foi apresentar a comunicação nas esferas pessoal e social, revelando alguns produtos, técnicas e responsabilidades próprias do comunicador.

Tudo bem que a “professora” também parecia aluna e realmente tinha a mesma idade de alguns dos presentes no momento. Mas como o que importava lá era a experiência a ser compartilhada, essa aproximação etária acabou contribuindo com o objetivo principal da oficina: sensibilizar.

O ponto de partida foi a abordagem da comunicação na esfera pessoal como uma ação que envolve diretamente as pessoas. A partir da percepção de que todo mundo se interage o tempo todo e que a comunicação é presença marcante na vida em sociedade foi possível apresentar os processos básicos de comunicação, experienciar formas de expressão, chegando à reflexão sobre a influência e o papel da comunicação nas relações sociais, políticas, econômicas e culturais.

Os conceitos apresentados ganharam uma dimensão real com a apresentação de alguns produtos de comunicação analisados conjuntamente, tanto do ponto de vista editorial, estético, como do alcance em diversos públicos, dentre outros aspectos.

A oficina de sensibilização em comunicação foi um novo desdobramento do trabalho que venho desenvolvendo com jovens interessados em se expressar e principalmente em compartilhar informações de interesse coletivo a partir da perspectiva cultural.

Essa experiência serviu para adentrar novos caminhos, mas especialmente para reforçar uma das características da comunicação que considero mais importante: a busca pelo diálogo e o entendimento entre as pessoas.

Essa característica foi um dos pontos centrais da oficina, desafiador tanto pela missão de repassar esse conceito para jovens (em toda a abstração e complexidade que ele sugere), quanto pelo próprio desafio de estruturar uma oficina que promovesse essa percepção.

O olhar atento dos jovens e a interação cada vez maior sugeriram uma conquista desses objetivos que foi possível a partir de recursos como dinâmica de grupos, exposição de materiais, leitura de textos e apostila elaborada especificamente para esse momento.

A oficina de sensibilização foi uma contribuição para a ação desenvolvida pelo Instituto Kairós (lugar que merece ser visitado) que está preparando o grupo Comunica Jovem para desenvolver ações de comunicação comunitária. Alguns conceitos foram lançados para esses jovens em início de “carreira”, especialmente a motivação para que eles busquem transformar suas idéias em realizações, numa busca contínua que naturalmente se repete, não como um círculo que sempre volta ao mesmo lugar, mas como uma espiral em que a próxima volta é sempre em um estágio mais avançado.

Pelo processo vivido e pelos resultados alcançados registro um agradecimento a minha grande irmã da vida inteira Ana Cacá (!) que a partir dos seus conhecimentos de dinâmica e psicologia social me orientou e contribuiu para ricos momentos na oficina. Obrigada também à Associação Imagem Comunitária-AIC pela cessão do programa Rede Jovem de Cidadania. À Rosana Bianchini, coordenadora do Instituto Kairós e especialmente à Flávia Britto (amiguda!) à frente da comunicação e deste trabalho com os jovens, obrigada pelo convite e parabéns pela promissora iniciativa.

7.8.08

"o simples repousa em profundidade"


Na manhã de quarta-feira o acaso me trouxe de presente o disco “Moira”, estréia da cantora Maísa Moura que lançaria seu primeiro CD na noite deste mesmo dia. Oportunidade para uma audição prévia que é sempre interessante, assim como assistir a um show estando aberta à novidade é uma experiência única.

Mas o tempo não dava tempo e o disco ali ao alcance dos olhos, investigado sem poder soar gerou uma expectativa pela simplicidade aparente, seguida de uma emoção pelos versos e pelo conceito do disco que se definia nos bordados do encarte. A primeira audição logo confirmou a intensidade deste trabalho permeado de critério, densidade e esmero.

O repertório do disco de estréia de Maísa Moura é elaborado, com Zé Miguel Wisnik (!), Chico Saraiva, Renato Negrão, Makely Ka, Eleomar e Tom Zé. São canções que sugerem caminhos inesperados e Maísa chega a todos e vai além com técnica apurada e larga extensão vocal. Os arranjos são de Avelar Jr., Guilherme Castro e Vladimir Cerqueira para uma formação com baixo, violões, violoncelo, sanfona e percussão com Fred Malverde, Sarah Assis e Léo Dias.


”Moira” convida o ouvinte a um universo de profundidade e sensibilidade.

Ousada, mas sem pretensão e por isso precisa e certeira Maísa Moura desponta na cena mineira com autenticidade e um potencial de grandes realizações. Suas pesquisas resultaram em um disco requintado, que nos transporta para um ambiente camerístico - ou ‘Roseano’ como pontuou Titane – em todos os casos bem expressivo.

É um disco para ser apreciado com o mesmo cuidado e dedicação com que foi feito. Trilha sonora para todos os dias descobrir um novo toque, um outro timbre ou um verso arrebatador. Vai permanecer por tempos bons na minha lista.

Para quem quiser ouvir, as faixas estão disponíveis para download junto com o encarte e as letras. Por aqui fico deixando um trecho da letra da canção “Casa de Areia” feita por Makely especialmente para sua parceira.



“sol aceso em mil faróis
na cambraia de lençóis
nem valentes nem heróis
somos dois somente mais a sós

ouço o vento e soa sua voz
muda lento em volta tudo atroz
passa o tempo e não passamos nós
noite adentro escorre pela foz”


arte gráfica de Gisele Moura + foto divulgação

6.8.08

G. GUEDES


Dois tempos, duas histórias que se reencontram na música. Para esse duo, um mesmo nome: G. Guedes, que vale tanto para Godofredo Guedes quanto para seu neto Gabriel Guedes. A distância que separa os dois (Godofredo faleceu em 1986, quando Gabriel tinha 8 anos), não impede a estréia conjunta em um trabalho recheado de chorinhos, de lembranças e de ineditismo.

“Choros de Godofredo”, CD que Gabriel Guedes lançou em 2005, traz chorinhos inéditos do seu avô paterno. O caderno de partituras manuscritas, com composições do avô carpinteiro, construtor de instrumentos, músico, poeta, pintor e artista foi um verdadeiro achado na sua vida. Uma herança de valor inestimável, com a qual Gabriel vem realizar o sonho de Godofredo, registrando essas composições em grande estilo, resgatando uma história muito musical.

Neste disco, Gabriel Guedes assume o bandolim e convida os artistas de sua referência para partilhar com ele esse momento de resgate e de estréia. Um encontro com os amigos e a família no melhor estilo das rodas de choro. Participam do disco seu pai Beto Guedes, que canta com Tavinho Moura a canção "Cais da Esperança", Milton Nascimento marcando presença em "Tropeiro", Wagner Tiso ao piano em "Tardes em Fortaleza" e Yamandú Costa com seu virtuoso violão em “Eu e minha clarineta”, dentre outros artistas.

O repertório, selecionado a partir do gosto pessoal de Gabriel e das peculiaridades de cada música, inclui ainda outras pérolas de Godofredo, como o sofisticado “Chorando em sol menor” e o melódico “Chorando com estilo”. O disco se completa com mais quatro músicas inéditas: “Tocando no Parque”; “O Último choro”; “Caindo do Céu” e “Tristeza de baiano”.

No dia 15 de agosto Godofredo Guedes, o patriarca de uma família de grandes artistas adoradores também da aviação, completaria 100 anos de vida. Gabriel Guedes, após realizar o sonho do avô lançando sua obra, preparou uma série de homenagens a Godofredo, a começar pelo show de hoje a noite, no Grande Teatro do Palácio das Artes com participação de Beto Guedes, Lô Borges, Toninho Horta, Marina Machado, dentre outros. A comemoração desta data querida se estende também para Montes Claros, cidade onde Godofredo viveu, com show especial no próprio dia 15.

Gabriel à frente deste trabalho encontrou a melhor forma de expressar sua admiração pelo avô: “Não se fala com palavras, o que se pode dizer com a música”. Música que fica a perpetuar a inspiração e sensibilidade de um dos maiores compositores da música popular brasileira.


Resgate do texto feito em 2005 para o caro querido amigo Xexéu para divulgar sua valiosa iniciativa. Desejo de boa sorte e um 'Até Montes Claros!’, já que a presença de hoje será em outro show: o lançamento de Moira, estréia da cantora Maísa Moura, no projeto Stereoteca. Hasta luego!

18.7.08

IDÉIAS SEM FRONTEIRAS


Este mês também é comemorativo pra revista Continuum, publicação mensal do Itaú Cultural que completa seu primeiro ano de existência. Entre artigos, entrevistas, textos literários e resenhas a revista aborda diversas temáticas pela perspectiva da arte. Arte que se faz presente nos textos mais livres e autorais, no espaço aberto para o visual e no projeto gráfico que compõe um produto atrativo e consistente.

Na versão impressa e virtual, a Continuum recebe colaborações e tem espaço interativo, dinamizado por constantes contribuições. Cada edição traz uma novidade seja no tema, no visual ou nas imprevisíveis colaborações da “Área livre”, que traz fotografias, ilustrações, textos ou mesmo objetos, pra tornar palpável alguns conceitos do design, como na revista nº 10. É desta seção, da edição nº 12, a imagem que ilustra este post, intitulada “A imagem das mil palavras”, criação de Dimitre Lima a partir das palavras mais utilizadas nas edições de até então.

O rompimento de aparentes paradoxos também é um marco da revista. A começar pela proposta editorial, de produzir um jornalismo cultural de fácil alcance e também reflexivo. Continuum convida a uma percepção dialética da realidade, das relações sociais e suas repercussões nas formas de expressão. Os processos criativos dos artistas, o contraponto da arte com a violência; a cultura na infância, a cultura imaterial; os contrários, as gerações, as “idéias sem fronteiras” já foram temas abordados. Neste mês o assunto gira em torno d’O Simples e o Complexo. Essa e todas as outras edições estão disponíveis para download.

O que está na revista repercute na sede do Itaú Cultural (e vice-versa) onde a teoria se confirma prática e entre exposições, seminários, espetáculos e espaços de convivência, o encontro de diversos acontece e as idéias reverberam. No dia 22 de julho, inclusive, a própria Continuum vai ser pauta do debate 'Arte e Cultura: O Mercado Editorial' que busca refletir sobre o mercado editorial voltado à arte e à cultura no Brasil, políticas e estratégias de sustentabilidade do setor, suas linguagens e conteúdo. Quem não estiver em Sampa pode conferir a transmissão ao vivo no site do Itaú Cultural.

Do ponto de vista institucional, a Continuum é uma estratégia diferenciada que legitima os conceitos defendidos pela própria instituição que, como se registrou na edição de lançamento, “busca a democratização do acesso à cultura e que tem o compromisso de estimular a reflexão, sempre”. Coerência torna o resultado da revista ainda mais interessante. Nesta data querida, votos de continuidade.


imagem de Dimitre Lima

14.7.08

É preciso aprender o tempo das coisas
Das coisas que não dependem do tempo



Sem pressa, sem prazo
Ora Boa vem desenhando seu espaço

Um ano na rede (!)

imagem de leandro hbl

27.6.08

'ÔBA LÁ VEM ELA'


Titane está diferente e vai surpreender o seu público. Principal cantora mineira em atividade, Titane lança o disco “Ana”, experimentando outras alturas para o seu canto preciso e intenso, revelando composições da nova geração de músicos de Minas Gerais.

O lançamento, que traz no título o nome da titã “Ana”, é uma coletânea da nova cena na voz de uma das maiores e mais autênticas intérpretes de Minas Gerais. Em homenagem aos compositores que se revelaram no Reciclo Geral – Mostra de Composições Inéditas, em 2002, Titane selecionou um repertório de mineiridades, registrando composições de Renato Villaça, Makely Ka, Érika Machado, Cecília Silveira, Dudu Nicácio e Kristoff Silva.

Mantendo a marca da carreira artística de Titane, o disco “Ana” apresenta uma experimentação musical refinada, com a participação de Renato Villaça na produção do disco e Rafael Martini em arranjos elaborados com um primor contemporâneo. Makely Ka deixa sua impressão artística influenciando versos e prosas. Entre os músicos convidados, todos talentosos representantes em processo de se fazer descobrir, a diversidade da música mineira interpretada por Titane.

Escute, aprecie e acesse um som que se encontra com o pulsar do presente. Vá lá no site para baixar as músicas, experimentar manipular os instrumentos das canções e baixar o encarte, obra e arte de Águeda Couto, com fotografia de Eustáquio Neves em site desenvolvido por Pedro Miranda.

O show de lançamento acontece dia 2 de julho, às 20h30, na programação do Stereoteca. Uma intensa experiência sonora é o que Titane garante para o show de logo mais. No embalo do seu disco que traz “uma interação suave com a máquina” ela apresenta um show único, um convite à audição sensível de sua voz, na elaborada base instrumental garantida pelos músicos Renato Villaça (guitarras), Rafael Azevedo (violões), André Cabelo (manipulação de áudio) e com intervenção criativa de João das Neves, da iluminadora Telma Fernandes, do artista plástico Osório Garcia e do fotógrafo Eustáquio Neves. Apareça!

Reforçaram o convite: Jornal Estado de Minas, O Tempo, Hoje em Dia, Rádio Inconfidência, Rádio Alvorada e mais Portal Terra, Globo Minas, Agenda BH, BH Eventos, Guia Entrada Franca, Dany Morealle, dentre outros.
Muchas gracias Fumaça Corp!


Tudo ao mesmo tempo agora! Titane lança ANA e a Comum coloca o carro da rua. A Cooperativa da Música de Minas chegou pra trabalhar em rede, articulando ações que visam profissionalizar o mercado e oferecer melhores condições de trabalho para os músicos daqui. Tamo junto! Para seguir adiante, com quem mais quiser cooperar, assembléia nesta segunda-feira, dia 30. Saiba mais na versão release do Pixelando ou no impresso registrado no Autófago. Acompanhe e participe, bons horizontes à vista.


foto eustáquio neves

26.6.08

. ART



“Coletivo de pesquisa, criação e produção audiovisual”, como eles mesmos se definem, a Teia reúne talentosos e jovens cineastas de Minas Gerais, realizadores de filmes de arte e documentários que tem elevado a fama do estado nos circuitos cinematográficos de todo o mundo.

Vez em sempre eles presenteiam o público belo-horizontino com sessões de seus filmes. Ontem mesmo rolou exibição de filmes em película viabilizados com Lei de Incentivo, como “Trecho”, de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina e o curta ficção “Outono” de Pablo Lobato, que entram em cartaz no Usina Unibanco de Cinema nesta sexta-feira.

A programação contemplou ainda filmes em vídeo, feitos em 2008 de maneira independente, e talvez por isso, mais livres para revelar o perfil autoral dos cineastas dos tempos de agora: Roberto Belini, referenciando Ítalo Calvino com “Jardim Invisível”; Sérgio Borges, registrando momentos únicos em “Perto de Casa”, Helvécio Marins Jr. com “Nem marcha, nem chouta” e Leonardo Barcelos com “Nacos de Pele”.

Uma pausa no corre do dia-a-dia para imergir nesta arte conceitual inspiradora e estimulante. Pode ser que telespectadores muito acostumados ao ritmo frenético da tv recebam os vídeos da Teia com mais impaciência que inquietude. Mas o espaço para o silêncio, os sons do ambiente, o movimento da luz e as experimentações estéticas convida a um outro tempo de apreciação dessa arte que aguça (em) todos os sentidos. Tendo oportunidade de comparecer a uma outra sessão da Teia, não perca.



cena do filme "Trecho", de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina

23.6.08

BIENVENIDO

Toque de recolher
Árvores sem folhas
Florescer de cores



A tristeza é como o inverno
Passageiro e seguido da primavera

6.6.08

FAVELA É ISSO AÍ : SINGULAR


O que é que a favela tem pouco se sabe, muito (mal) se diz, e quase sempre nenhuma proeza se mostra. “Favela é isso aí” vem quebrar esse gelo revelando o que circula por ‘entre becos e vielas’ através da arte, da criatividade e da cultura dos jovens de lá.

Fruto do trabalho da incansável antropóloga Clarice Libânio que lançou em 2004 o pioneiro ‘Guia Cultural das Vilas e Favelas de Belo Horizonte’ (disponível aqui), a ONG Favela é Isso Aí vem contribuir para o fortalecimento e divulgação dos artistas do morro, que não são poucos. Os dados coletados pelo Guia revelam que são mais de 740 grupos culturais “entre as mais de 500 mil pessoas que habitam a periferia de Belo Horizonte”, isso em 2004.

Com o aumento das oportunidades vindas com o surgimento de ONG’s como o próprio Favela, além de mecanismos de incentivo e profissionalização dos envolvidos, a tendência ao crescimento é certeira. O Favela é isso Aí segue no mesmo ritmo, se estruturando para receber e gerar demandas entre os artistas, fortalecendo um cenário que mais do que social, é também artístico.

Atualmente a ONG ocupa uma sede no bairro Serra onde estão sendo montados estúdio de ensaio e gravação de bandas, além de ilha de edição de vídeo. Dispondo de um espaço amplo, essa sede revela-se também um potencial ponto de encontro de artistas de diferentes áreas e regiões da cidade. No momento estão acontecendo oficinas gratuitas de cinema de animação e oficina de vídeo documentário.

Os resultados do trabalho da ONG surgida em 2004 podem ser conferidos no site que funciona como um difusor das ações desenvolvidas, além de ser um banco de dados sobre as vilas e favelas de Belo Horizonte e uma fonte de informações sobre comunidades e terceiro setor. Lá também se encontra uma série de dicas de “Lugares legais” para se visitar nas diversas comunidades existentes em Belo Horizonte.

O conteúdo disponível pela web está também no “Informativo Favela é Isso Aí” que circula pelas comunidades compartilhando o conteúdo de pesquisas e levantamento de dados disponíveis no site. Ora Boa desde sempre colabora com a coluna ‘Outro Umbigo’.

A mais recente produção do Favela é Isso Aí é a coletânea de livros “Poesia e Prosa no Morro”, com cinco livros que reúnem a produção literária e poética de moradores de comunidades de BH, além de livro de receitas, reunião de ensaios e atualização do Guia Cultural das Vilas e Favelas.

O lançamento do “Poesia e Prosa no Morro” acontece na próxima terça-feira, dia 10 de junho, no Museu Histórico Abílio Barreto, com direito à show de Domingos do Cavaco com participação de U-Gueto, dança com Brother Soul, projeção de fotos de Pedro David e degustação da culinária diferenciada do grupo Semear e Grupo Causa. A partir das 19h para quem quiser participar.


“Singular” é um dos artigos do livro de ensaios. Produzido exclusivamente para esta coletânea, o artigo aborda questões de arte, identidade e cidadania. Uma prévia do Singular você lê a respeito aqui no blog. Este lançamento vai ser um momento importante em vários sentidos: pelos anos de persistência e busca por investimento para publicação dessa coletânea, também pioneira pela temática e conteúdo dos livros e pela estréia do Singular em uma publicação tão autêntica. Comemoremos!

1.6.08

VER TE


POEMINHA DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Mário Quintana


O verde está saindo da praça... do mercado e da cidade. Já não há mais beija-flor e logo serão poucos os pássaros em geral. A verdinha nota de um real virou raridade, assim serão também com as árvores?

O homem abriu mão de ter os pés no chão, vive no deslumbre, nas alturas dos arranha-céus. A cabeça nas nuvens e as árvores sem chão. Os pássaros sem pouso se vão, o ar não se recicla, o sufoco se amplia. Os valores agora são outros.

“Alvorada com passarada” “passou o tempo e o vento levou”. A moeda veio para substituir o “papel” do beija-flor, na mesma época em que o belo horizonte aos poucos se perde em meio à selva de pedras. Uma troca como tantas outras históricas. Um desejo sincero de que esse novo trocado não represente também a perda de mais verde na paisagem.


14.5.08

VIRADA À PAULISTA


São São Paulo pelas ruas do seu centro histórico, entre o cruzamento da Avenida Ipiranga e a Avenida São João, pelos arredores do Vale do Anhangabaú, em diversas regiões e com pólos descentralizados realizou mais uma edição do seu “carnaval temporão”.

Evento bem urbano, de alto nível, a Virada Cultural rola no ritmo e na freqüência dessa cidade ligada 24 horas por dia. Para além do trabalho diário, uma oportunidade de acesso à produção artística nacional, noite e dia com uma programação repleta de bambas, se revezando em palcos abertos para o rock, o indie, o hip hop, o samba, as meninas, a dança, o teatro, o circo...

Para tanto uma boa infra-estrutura, pontualidade entre as atrações e destaque para diversidade artística brasileira e sua interface com o mundo. O público aderiu à proposta e mais de quatro milhões de pessoas participaram do evento, número superior à população de Belo Horizonte (!).

Opções variadas. A todo minuto acontece um show, uma intervenção, um evento artístico no centro da cidade e em todos outros lugares que incrementaram sua programação para fazer acontecer a Virada.

Fernanda Takai e Gal Costa entraram no roteiro de shows. Elas foram responsáveis por muitos cantos coletivos, mãos erguidas e a nostalgia de um “barquinho que vai”, em incrível versão em japonês pela Takai, reforçada por um “Chega de saudade” na leveza serena de Gal. Esses shows simbolizaram a fertilidade e permanência da música brasileira mundialmente consolidada com a bossa nova e a tropicália.

Marina de la Riva, hermosa chica, esbanjou charme com um repertório de hinos caribenhos e clássicos brasileiros. Ela mesma elo entre Brasil e Cuba, faz parte do time mais forte das cantoras da nova geração. Desse ritmo pra cima, no pique coletivo de criação, Orquestra Imperial, divertindo (se)! Bem arranjados, vários músicos e artistas cariocas se juntaram e criaram um espetáculo musical que foi uma alegria só.

Nesta concreta cidade, concentrado de brasilidade, também teve Tom Zé, na modernista Casa das Rosas, onde ele tocou as melhores, soltou o verbo e o ritmo. Confessou cantando que “Augusta, Angélica e Consolação” é uma de suas grandes criações. Ô se é! Como é grande Arnaldo Antunes e a canção, o "corpo a corpo com a linguagem", puro sentimento e expressão. Ele reinou no palco rock diante de uma multidão de perder de vista. Vencidas as 24 horas, a carruagem de volta pra casa e pra rotina com certeza estava um tanto mais inspirada.

Breve imersão na diversidade paulistana, esse evento foi praticamente um “boas-vindas!” à terra da garoa. Bem na Virada, palavra que sempre vem surgindo repentina, foi dada a largada à temporada de estudos na Universidade de São Paulo. Como serão muitas as idas e vindas, por aqui Virada à Paulista virou um dos “marcos” do blog. Umas histórias virão sobre a terra de lá, em homenagem à “neomineira”, contadora de causos Jujulita, parceira de caminhos afins que tempera um Tutu Mineiro bom de ler e de dialogar. Sobre os estudos, confira alguns registros do processo no marco “Reflexão prática”.

foto alimdul

25.4.08

ENTRE E FIQUE A VONTADE




De longe pode parecer uma miragem, ou mesmo uma ilha de memória em pleno centro urbano da capital. A imaginação infantil não duvida que naquele castelo exista uma princesa aprisionada, ou mesmo uma bruxa má atrás da porta principal.

A maioria da população que transita por ali sem parar, indo e vindo na labuta do dia-a-dia geralmente desconhece o que hoje habita este antigo Prédio da Estação Central de Belo Horizonte.

Os pré-conceitos podem querer permanecer diante da “previsibilidade de um museu”, mas o convite é insistente: entre e fique a vontade, o Museu de Artes e Ofícios é um concentrado de realidade histórica e cultural.

Reconhecer a arte que existe no ofício artesanal dos trabalhadores, protagonistas de um Brasil pré-industrial é compartilhar a riqueza de uma história que nem sempre se conta nos livros oficiais. O Museu de Artes e Ofícios - MAO é esse lugar de memória, de valorização e divulgação das profissões e principalmente do trabalhador brasileiro.

Inaugurado em dezembro de 2005 o MAO apresenta ao público uma coleção de mais de 2.200 peças dos séculos XVIII ao XX divididas em ofícios diversos, como transporte, comércio, mineração, conservação e transformação dos alimentos, ambulantes, dentre outros.

Sua implantação nos prédios históricos da Estação Central, que foram restaurados para abrigar o Museu, trouxe um ganho artístico-cultural para Minas Gerais e também representou um processo de valorização e requalificação do centro de Belo Horizonte.

Ali, bem próximo ao trabalhador, o MAO mantém e revela a riqueza da produção popular, os fazeres, os ofícios e as artes que deram origem a algumas das profissões contemporâneas.



Não por acaso, pessoas de diversas classes sociais e faixas etárias expressam sua emoção e satisfação por estarem ali, se reencontrando com o seu passado, com um cotidiano remoto que permanece vivo. O diferencial está justamente nesse encantamento que ressurge com o simples e corriqueiro, destacado em uma coleção que valoriza a arte diária de “construção do mundo dos homens”.

Desafios não faltam para manter essa instituição plenamente dinâmica e atuante. Ações integradas nas áreas museológicas, educativas e culturais são desenvolvidas diariamente e o público pode apreciar a exposição permanente com os ofícios brasileiros e também participar dos eventos culturais mensais “Ofício da Música” e “Ofício da Palavra”, além de exposições temporárias, oficinas e outras atividades.

Para o mês de maio, programação especial para a 6ª Semana de Museus, lançamento do curso de “Qualificação de jovens em conservação” e nova e renomada exposição temporária. Acompanhe aqui. Para todo este ano, o prazeroso desafio de desenvolver uma gestão cultural que venha de encontro às demandas e potenciais desta importante instituição museal, tendo na criatividade e flexibilidade da arte, a fonte de inspiração. O trabalho está só começando.


fotos Miguel Aun

12.4.08

PASSA TEMPO


Ponteiros parados marcavam um tempo passado. Os relógios de pêndulo, espalhados naquela casa antiga (velha só em idade), cada um em um horário, traziam lembranças de outros momentos. Traziam impressões que rejuvenesceram o tio e as tias-avós de ‘Beatrizinha’, e de repente aquela era uma Salvador moderna, ao mesmo tempo (sobre)viva na contemporaneidade, isolada como uma ilha, perdida em um Rio Vermelho, na praia de Iemanjá.

Na presença de tantos horários que já se foram, e que todo dia se repetiam voltando sempre numa daquelas horas em que parou, deu pra desnortear os ponteiros, perder os eixos e me deixar levar pelas praias, bairros, ladeiras e ‘buracos’ daquela festiva capital em pleno verão. À procura de uma identidade, do tempo típico do soteropolitano, encontrei um pouco de tudo nas pessoas que traziam dentro de si, no seu dia-a-dia, elementos da cidade além do carnaval. Pessoas em vários tempos simultâneos, transitando entre o turismo e a rotina de cidade grande. Pessoas que, parecia, não davam muita ‘corda’ para seus relógios.

Num outro instante vi, em outros lugares, relógios antigos que nem oscilavam entre o baiano ritmo “lento, devagar ou dorival caymmi”, também estavam parados. Pendurados como um troféu, outrora disputado por alguém que correu atrás do tempo e depois deixou ele vencer só. O tempo ficou e a corrida passou a ser em busca daquela história que fez então o tempo parar, estático, registrando aquele instante que nesta imaginação (por que não?) era especial. Era ontem, amanhã, agora.

Embalada pelas voltas do ônibus, olhando a janela à procura desta Salvador “fora de época”, buscando respostas para toda aquela energia fundida em raças, ritmos e crenças, que nelas um tanto de mim encontrava, fui confirmar tal especialidade de tempos parados. Foi num momento em que uma senhora, mais forte que a sua idade e condição social, me perguntou as horas, indignada, pois o seu ponteiro não girava, mas apontava as mesmas seis horas e cinco minutos do meu relógio. Foi então que o tempo parou e ela se foi, seguiu sua rotina a caminho de casa, alguns pontos antes do Pelourinho, me deixando à deriva, em Salvador.

* Repeteco do texto surgido no verão de 2006. Homenagem aos eternos retornos. À sempre especial cidade de São Salvador.

7.4.08

REDEMUIM 2008


Rede movida pela energia da juventude e da transformação, o projeto RedeMUIM de Arte e Cultura chega à sua terceira edição, firme no seu propósito de fortalecer o cenário artístico cultural do Aglomerado da Serra e da Grande BH. Com o histórico de duas bem sucedidas edições voltadas para a formação de produtores culturais e agentes de comunicação, o RedeMUIM agora volta suas ações para os artistas locais, que ganham espaço para formação e experimentação artística.

O Projeto RedeMUIM de Arte e Cultura é uma realização do coletivo C.R.I.ARTE- Comunidade Reivindicando e Interagindo com Arte, que há três anos vem realizando atividades de formação e produção para artistas e produtores locais. À frente das coordenações geral, de produção e de comunicação, os jovens do C.R.I.ARTE vêm atingindo suas metas e cada vez mais profissionalizando suas ações culturais, sem perder de vista suas características próprias e peculiares.

Atento à realidade do Aglomerado da Serra, uma das comunidades de Belo Horizonte que mais têm grupos culturais em atividade, o C.R.I.ARTE desenvolveu o projeto RedeMUIM que hoje tem sua marca associada aos eventos “Aglomere-se”, ao jornal "Entre Becos e Vielas" e ao site, que seguem seu percurso. Os processos vivenciados pelo grupo estão sendo registrados no blog.

Com o olhar voltado para os artistas locais, o RedeMUIM promove agora novas realizações. Em 2008 serão realizadas oficinas voltadas para formação e experimentação artística. Aos artistas auto-produtores, que já desenvolvem seu trabalho com a criatividade que lhes é própria, serão acrescentados novos conhecimentos, que virão potencializar e profissionalizar esse trabalho artístico. Acesso à informação para estimular novas criações. Continuidade nas ações para alcançar novos horizontes.

É assim que o RedeMUIM segue multiplicando suas ondas. Para começar bem o projeto e divulgar as inscrições para as oficinas, vai acontecer de 7 a 11 de abril o evento “Aglomere-se – Arte Computacional”. Será uma semana de encontros com artistas e programadores apresentando as diversas possibilidades e contribuições que o computador traz para a criação artística.

Aberto a todos os interessados, o “Aglomere-se – Arte Computacional” acontece das 19h às 21h, no Centro Cultural Vila Marçola (R. Mangabeira da Serra, 320 - Serra). Na ocasião, artistas interessados em participar das oficinas de formação e experimentação podem fazer sua inscrição e garantir a sua participação nos módulos de desenvolvimento e ação.

Confira a programação do “Aglomere-se – Arte Computacional”:

07/04 – DJ e VJ: manipulando som e vídeo em tempo real
c/ DJ Spider e VJ Tatu Guerra

08/04 – Arte Computacional Interativa
c/ Designer visual Marília Bergamo

09/04 – Computação Musical: da criação ao palco
c/ Músico e DJ Produtor Lucas Miranda

10/04 – Programação sonora visual
c/ DJ e Designer André Wakko

11/04 – Software Livre: ferramentas pra uma cabeça aberta
c/ Músico Manuel Chile e o Programador Clóvis Nosklo

Pode chegar que a entrada é franca.

9.3.08

CéU DE CAMILLE



Para descobrir novidades no mundo da música hoje e não se perder em meio à tantas produções, uma possibilidade é seguir os links que revelam as influências e inspirações dos novos artistas. Os recortes, as colagens e a miscelânea da produção musical se multiplicam a cada dia, e uma hora ou outra, as referências vêm à tona e surgem novas revelações. Ouvidos atentos fazem a ponte, a internet ajuda muito a consumar o fato.

Reconhecer um verso de Leminski inspirando a canção de Makely; a citação de Nino Rota na versão de André Mehmari para a clássica música “A Ostra e o Vento”, de Chico Buarque; ou mesmo Nina Simone revistada na abertura do disco do rapper Black Alien são exemplos dos mais diretos.

Menos explícitas foram as derivações que surgiram ao ouvir a cantora CéU. A paulistana trouxe um ar de ineditismo para a mpb que sugeriu uma versão brasileira de novidades vindas da gringa, até então desconhecidas.





CéU é jazzística, eletrônica, tem um jeito peculiar de cantar, mas não deixa de lado a ginga típica do Brasil. Vive mundo afora apresentando as canções do seu disco homônimo lançado em 2005, onde assina algumas canções e cria novas versões à clássicos como “Ronco da Cuíca”, de João Bosco e Aldir Blanc, e “Concret Jungle” (!), de Bob Marley. Disco novo deve sair ainda esse ano.

Vasculhando as referências do trabalho da CéU foi possível chegar à Beto Villares (!), produtor do disco; perceber alguma semelhança de timbragem com a cantora canadense Feist, que tem levada mais pop; e além das referências inerentes, aportar na canção estilosa da francesa Camille.

A semelhança não é direta, mas o sotaque de Camille imediatamente remeteu ao jeitinho fechado (seria de biquinho?) de cantar da CéU. Esse aspecto "familiar" estimulou a audição completa do disco Le Fil, resultando em uma agradável descoberta.

Camille canta com o corpo, é performática, não faz questão de botar banca de bonitinha. Com a banda Nouvelle Vague incorporou pitadas da música new wave e da bossa nova. Em Le Fil, nas entrelinhas, no intervalo das canções, deixa revelar o conceito que marca o álbum, um canto chão que é a base e o tom por onde desfilam todas as canções. Subliminarmente esse fio prende o ouvinte. A mim prendeu, especificamente por essa jogada que sugere uma música que não tem fim.

Ela “sabe ser pop, jazzística, pós-moderna, lúdica e, como não poderia deixar de ser, francofonicamente elegante”, como registrou Giovane Alexandre, neste link aqui. Inclusive, essa resenha apresenta bem o disco. Para outras percepções, fica o vídeo da canção “Ta Douleur”.


* atalho para novas descobertas: www.lastfm.pt

7.3.08

a s u a p a u s a







TUM TUM
HOR(A)OSCOPO
OSCULO
TIM TIM







pro nomade

27.2.08

MULTIFACETADO


Ele canta como fala como canta ele fala e conta que seja inspiração de um sonho ou construção constante do verso, tom por ritmo por sílaba ele se dedica até surgir o poema. Este vira música, performance, palavra cantada ou desenhada, tudo a mesma coisa, vinda da mesma base. “O trabalho com a palavra é como um porto seguro por onde me aventuro em outras linguagens”.

Entre a poesia da canção e a poesia do livro ele penetra em todos os ambientes, transitando tranquilamente pelo que se convencionou chamar de opostos. Ícone da geração anos 80, saltou do mainstream ao circuito independente. Sua criação habita ambos os ambientes.

Múltiplo artista consolidou seu trabalho ao lado dos Titãs e de grandes parcerias em seu trabalho solo, apreciado pelo grande público e não só por ele. “As pessoas estão muito mais abertas às novidades do que querem fazer crer alguns setores de mídia”. Freqüenta os circuitos da arte contemporânea a criação deste multiartista.

Clandestino no ambiente musical, solta o verso e vê surgir a música, feita por ele ou por parceiros. A musicalidade dos versos já rendeu várias traduções e até mesmo cinco canções para um “Pensamento”.

Pensamento que vem de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agoras
em o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento, dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei semente
sem cima do seu cimento.

Arnaldo Brandão, Neusa Pinheiro, Fernanda Porto, Sérgio Britto e Rômulo Fróes, cada um trouxe à tona a música que saltou desses versos. Pode escolher o estilo e o ritmo, toda gama de variações cabe. Desse poema só, foram cinco versões diferentes.


“O que”, uma “equação filosófica na base de funk”, vai nessa linha de diversa possibilidade. Uma ponte entre abismos imaginários. Gravada no disco “Cabeça Dinossauro” em 1990, essa música já embalou pistas e agora ‘faz cabeças’, como poesia visual no livro “Como é que chama o nome disso” (2006) uma antologia de versos, canções e outros experimentos.

Da palavra à canção, reúne os fragmentos em rascunhos para “ver materialmente as escolhas” que se transformam quase artesanalmente no computador. Tudo isso e um prazer revelado pelos shows, pelo corpo a corpo com a linguagem (!)

“A poesia apresenta o mundo mais do que fala sobre ele”. Num atalho para princípios essenciais, adentrou no mundo dos filhos e com “um olhar que beira o infantil”, lançou em 1992, “As Coisas”, “uma prosa contaminada pelas poéticas” que revela o que de mais incrível está adormecido no óbvio. O estranhamento é comum à poesia, é também princípio de vida. “Saiba” (2004) vem dizer das mesmas coisas e sua obra se vê, amadurece na autenticidade de seu processo criativo.

Arnaldo Antunes inspira a positividade criativa. Surpreendeu ele que sempre pareceu familiar. Essas e outras coisas, ele contou ontem no encontro de abertura do projeto Ofício da Palavra 2008, no Museu de Artes e Ofícios - casa diária desses meus tempos. Muita gente marcou presença no evento que revelou bem de perto esse artista completo, no palco ou na vida.


De lá uma passada no Francisco Nunes, para ver teatro cheio com Kristoff Silva e seu espetáculo contemporâneo, envolvente, cada vez mais impecável. A noite revelou ainda uma novidade quente como salsa, afoxé e música brasileira inédita: show das ‘Morales’, no Recanto da Seresta. Irmãs nas artes, no circo e na percussão, o grupo formado por Jabu, Aline e Adriana Morales tava bem acompanhado de Poliana Tuchia, Maurício Ribeiro, Rafael Macedo, André Ladeira, Ana Lu, Juliana Perdigão e participação de Vitor Santana. Uma música mineira que vai além mar. Ponte incrível entre Minas e Pernambuco. Repertório original de dançar e pedir bis. Teve bom. Belo Horizonte tá que tá (!)

foto márcia xavier