O desejo de uma pessoa envolveu dezenas de outras delas – fez do indivíduo um coletivo. Na capital, esse desejo se comprovou possível e se multiplicou em outros três municípios do interior do estado. Veio da tradição a inspiração para modernizar e viabilizar um coro cênico-musical bem brasileiro. São aparentes os antagonismos que se encontram e fazem a diferença do projeto "Titane e o Campo das Vertentes".
Em Minas Gerais , no Brasil e no mundo a cantora Titane imprimiu a sua marca como artista que explora novos caminhos criativos. Tendo na bagagem a interioridade de Minas Gerais e a contemporaneidade incorporada das grandes cidades, Titane faz a ousadia resultar em uma qualidade musical e artística bem particular. De onde vem, para onde vai, carrega influências diversas (da vanguarda paulistana ao congado mineiro) e desejos vários de experimentar possibilidades.
Com o projeto "Titane e o Campo das Vertentes" a experimentação para criar um coro cênico-musical se associa ao compartilhamento de técnicas e ao processo criativo e artístico feito em conjunto. Revela o potencial de uma ação que é grande por ser obra de muitos indivíduos que se entendem na coletividade e assim realçam a qualidade do todo.
Buscando meios de unir coro e percussão em um espetáculo harmônico e diferenciado, Titane encontrou no congado e no reisado típicos da sua terra natal, Oliveira, a referência para realizar esse seu desejo de cantora. A performance dos folguedos populares foi fonte inspiradora. O resultado foi satisfatório. O processo que se deu na cidade grande, em Belo Horizonte, com a realização de oficinas para preparação do coro, se mostrou um procedimento técnico eficiente que sustentava a viabilidade da proposta artística de Titane. Impulso suficiente para replicar e compartilhar em cidades do Campo das Vertentes a possibilidade de se fazer arte e ainda ir um pouco além, provocando identidades e reflexões sobre a coletividade.
Assim, em 2006, essa experiência subiu a serra e chegou às cidades de Oliveira, Itapecerica e Divinópolis, na região centro-oeste de Minas Gerais, conhecida como Campo das Vertentes. Oficinas de técnica musical, cênica e corporal são oferecidas para interessados com idades entre 15 e 25 anos. Titane, João das Neves e Irene Ziviani atuaram juntos, os três, ao mesmo tempo, na sensibilização e preparação artística dos 20 selecionados em cada uma das cidades.
A estratégia de integrar as artes, do ponto de vista prático, busca colocar as pessoas em contato com elas próprias, com os seus potenciais e diferenciais, para então situá-las diante do todo, do coral cênico-musical que é feito de todos e de cada um. Num âmbito mais abrangente, dessa nova percepção provocada pela arte surgem possibilidades do indivíduo descobrir seu impulso criativo e sua localização e atuação no mundo. Um micro influenciando o macro (ou o indivíduo na coletividade), como um cantor faz o coro acontecer.
A preparação resultou na criação e montagem do espetáculo "Titane e o Campo das Vertentes", que completou as atividades do projeto em 2006. Neste momento de finalização, se aproximaram outros artistas, como Sérgio Pererê e Makely Ka. Makely teve suas canções e versos interpretados por esse coro cênico-musical. Pererê, além de atuar como autor convidado, foi incorporado à equipe de preparadores e diretores do espetáculo. Como representantes da geração de compositores e músicos dos dias de hoje, a chegada de Sérgio Pererê e Makely Ka, no velho e bom mineirês, é considerada "boa demais", pois traz ares de renovação e ineditismo a esse projeto que é diverso e particular, artístico e social.
Concretizada essa primeira etapa, o projeto “Titane e o Campo das Vertentes” em 2007 retornou à Divinópolis e foi além, chegando à cidade de São João del-Rei, onde o espetáculo foi apresentado para um grande público. A continuidade do trabalho e os resultados visíveis no talento dos jovens em pleno desenvolvimento confirma que a mistura resulta. O projeto continua, estimulando vocações artísticas, difundindo arte e criatividade, propiciando aos envolvidos momentos singulares, mas gerando efeitos que só se conjugam no plural.
fotos joão castilho
2 comentários:
Que texto maravilhoso. Ah, isso é redundante! A verdade é que fiquei louco pra conhecer esse projeto. Ainda mais com a chegada do Makely Ka, que me tornei fã.
Anderson Ribeiro
nossa, lud!
quase chorei...
'efeitos que só se conjugam no plural' acabou comigo!
todo mundo tem que ler isso!
já espalhou pros rosa?
ai ai ai de novo!
Postar um comentário