12.4.08

PASSA TEMPO


Ponteiros parados marcavam um tempo passado. Os relógios de pêndulo, espalhados naquela casa antiga (velha só em idade), cada um em um horário, traziam lembranças de outros momentos. Traziam impressões que rejuvenesceram o tio e as tias-avós de ‘Beatrizinha’, e de repente aquela era uma Salvador moderna, ao mesmo tempo (sobre)viva na contemporaneidade, isolada como uma ilha, perdida em um Rio Vermelho, na praia de Iemanjá.

Na presença de tantos horários que já se foram, e que todo dia se repetiam voltando sempre numa daquelas horas em que parou, deu pra desnortear os ponteiros, perder os eixos e me deixar levar pelas praias, bairros, ladeiras e ‘buracos’ daquela festiva capital em pleno verão. À procura de uma identidade, do tempo típico do soteropolitano, encontrei um pouco de tudo nas pessoas que traziam dentro de si, no seu dia-a-dia, elementos da cidade além do carnaval. Pessoas em vários tempos simultâneos, transitando entre o turismo e a rotina de cidade grande. Pessoas que, parecia, não davam muita ‘corda’ para seus relógios.

Num outro instante vi, em outros lugares, relógios antigos que nem oscilavam entre o baiano ritmo “lento, devagar ou dorival caymmi”, também estavam parados. Pendurados como um troféu, outrora disputado por alguém que correu atrás do tempo e depois deixou ele vencer só. O tempo ficou e a corrida passou a ser em busca daquela história que fez então o tempo parar, estático, registrando aquele instante que nesta imaginação (por que não?) era especial. Era ontem, amanhã, agora.

Embalada pelas voltas do ônibus, olhando a janela à procura desta Salvador “fora de época”, buscando respostas para toda aquela energia fundida em raças, ritmos e crenças, que nelas um tanto de mim encontrava, fui confirmar tal especialidade de tempos parados. Foi num momento em que uma senhora, mais forte que a sua idade e condição social, me perguntou as horas, indignada, pois o seu ponteiro não girava, mas apontava as mesmas seis horas e cinco minutos do meu relógio. Foi então que o tempo parou e ela se foi, seguiu sua rotina a caminho de casa, alguns pontos antes do Pelourinho, me deixando à deriva, em Salvador.

* Repeteco do texto surgido no verão de 2006. Homenagem aos eternos retornos. À sempre especial cidade de São Salvador.

4 comentários:

Luiz Antônio Navarro disse...

tic tac tic tic tac tic tac tac tac tic

.,. o que é que eu tenho a ver com isso?.,. disse...

ah, lindurilda danada de boa!
adorei!
agora seu relogito deve tá contando os minutos pra sábado chegar e sua nova aulita começar, no!?
também to toda aqui torcendo pra tu!
nossa mix ficou abandonada, né?
quando, onde e como? vamo que vamo?

joca

keyla disse...

Oi Lulude, ta uma delícia seu oraboa

to esperando sua visita para conhcer a Lina!

beijos
Keyla

caçador das águas disse...

se tudo pode acontecer

pode o tempo parar

posso acordar às 4 da manhã e pegar a bicicleta em direção à casa do Rio vermelho, pra sequestrar a filha de Iemanjá

e depois ficar parado lá, no tempo, sempre.