27.10.08

PERDIDA NA FLORESTA PREDIAL


A chegada é junto com o sol. Os primeiros raios são avistados brevemente, até que o metrô adentra o subsolo e por um bom tempo lá permanece. Na troca de estação o segurança de olhos arregalados e postura ereta volta para casa depois de mais uma balada.

No destino de desembarque, emergir das profundezas do subsolo é por instantes como perder a referência do chão, metros abaixo avistando metros acima. Na Avenida Paulista pouco tempo no solo se fica. Do subsolo para ir acima do décimo andar ou andar na rua sob um chão que esconde o vão por onde passam os trens.

Em São Paulo o assobio anuncia a chegada, mas o metrô só surge mesmo quando é seguido de um vento de embalar os cabelos. Se não, está passando no piso debaixo do prédio subterrâneo de trens que cortam (quase) todos os lados dessa cidade que é igual a todas, porém enoooorme perto dessa Belo Horizonte onde o metrô segue a Serra do Curral e no sentido leste-oeste desfila a cidade toda à vista.

Nas redondezas da Consolação a manhã se confunde com o fim de noite. É recorrente o desvio dos cambaleantes jovens virados, tentando voltar para casa ou concentrados no Bella Paulista, espaço de alimentação aberto 24 horas por dia. Lá os opostos se encontram: uns pernoitados e outros despertando para um dia de labuta.

A parada alternativa é na praça Benedito Calixto, onde o ritmo dos senhores montando as primeiras barracas da feira é mais condizente com o dia de estudo que se avista. São eles as mais recentes companhias do desayuno semanal empreendido em São Paulo, em meio às raridades de tempos passados expostas nessa feira tão tradicional.

Ponto de encontro como o Bella Paulista passou despercebido em terras mineiras onde o correspondente é um misto dos dois lugares. Na deliciosa praça de Santa Tereza, como diria aquele paulista mineiro agora carioca Israel do Vale, o hábito é ver o sol nascer atrás do rochedão, com tropeiro e macarrão do Bar do Bolão.

Nesta rotina São Paulo vem se desvendando por ora pouco atrativa, não somente a capital paulista, mas o padrão que se repete nas grandes cidades, com suas estruturas grandiosas e o olhar vazio dos transeuntes como que condicionados, repetindo passos, lançando mão de seu destino. Um sábado assim em Sampa se equivale a um dia útil em Belo Horizonte que vai às cegas, seguindo esse mesmo rumo, se perdendo e transformando-se em uma entristecida floresta predial.
foto emprestada da cia de foto

7 comentários:

Anderson Ribeiro disse...

Essa Lud me fascina. Menina belohorizontina com sina de contar histórias. I LUD YOU!!!

Luiz Antônio Navarro disse...

linda descrição do seu cotidiano sabadal. dá até pra sentir cheiro!

sábado é um dia especial, nem sempre fim de semana, nem sempre dia útil. por isso mesmo ele trás segredos pequenininhos que precisam ser descobertos, e com muita atenção.

prestenção ludmila! olha para aquele cantinho da são paulo que você ainda não olhou e, quem sabe, você encontra algo além do olhar monótono de quem se deixa domesticar no cotidiano.

maria lutterbach disse...

é uma cidade de cenários, vejo assim, lud. vc sai da sua casinha, entra no metrô, cai na rua, pede uma pizza de fatia, toma um café na padaria, pega a última sessão de cinema, desiste da fila no milo, entra no astronete e pede um bloody mary pra combinar com o balcão..no fim gastou R$70 e pode ser divertido, mas será? acho que o foda é o tanto de gente formigando em fazer coisa legal, reinventando esse tal espírito empreendedor pra criar coisa boa. aí uma hora ce vai pra praia, pega uma brisa e pensa se vale a pena ou não. ou até quandooo? beijo

Anônimo disse...

segredos tem
praia tem também
maria um dia vai ter ! jajaja !
e é só essa uma parte da história
que tem isso também docês
beijo daqui

Unknown disse...

Lud Lud. E você que até me advertiu porque não passava por aqui, agora me surpreende com essa apropriação incrível da minha própria cidade. É inacreditável como a vejo mais claramente por meio dos seus olhos, bonita. Beijo enorme.

Júlia Tavares disse...

Adorei o intercâmbio de descrições da cidade alheia. Nada como a distância para regular o foco da visão... Eu mesma, não mais tão novata em BH, já vejo SP com outros olhos.... Beijos!

Anônimo disse...

lindo, lud....
a gente acaba revirando os rumos quando temos tantos...
a cidade é assim mesmo, tanto cá quanto lá, quando o sol tá por trás das nuvens aqui dentro, lá fora é só vento frio e luz laranjada de poste nublando as ruas....
ainda bem que nossa vida ainda vai além.....
ainda.
bem.

bjoca minhoca