25.9.08

DE OLHOS BEM PUXADOS


O Eletronika – Festival de Novas Tendências Musicais, chegou à sua sétima edição em 2008 celebrando o Centenário da Imigração Japonesa. A escolha dos artistas, as ações paralelas aos shows e toda a identidade visual do Festival levaram em conta o diálogo intercultural entre Brasil e Japão, sem perder de vista a busca pelas novas tendências em todo o mundo.

A programação foi marcada pelo ineditismo e pela diversidade de atrações, sendo que o festival reuniu shows musicais, festas, mostra de cinema e debates, conquistando com isso um público amplo e diversificado, que variava de acordo com o perfil das atrações.

A noite de estréia do Eletronika apresentou uma artista mineira de peso no cenário nacional e contou com presença de grande público. Fernanda Takai, vocalista da banda Pato Fu tem conquistado adeptos diferentes com seu disco solo “Por onde brilhem os olhos seus”. Ao regravar Nara Leão a cantora conseguiu reunir na platéia diferentes gerações.

Mas seu show causou grande impacto mesmo pela presença da cantora convidada Maki Nomiya, da banda Pizzicato Five. Ícone da música pop japonesa, Nomiya cantou a canção “O barquinho”, em japonês com Fernanda Takai que por sua vez a acompanhou na divertida Twiggy Twiggy, com refrões e coreografia e também na música Sweet Soul Revue, ambas hits do Pizzicato Five, banda da qual Nomiya foi integrante. A presença de Nomiya chamou a atenção da mídia nacional para o festival, rendendo matérias no Caderno 2 d’O Globo e extrapolando as pautas de cultura, chegando à sessão de moda do site da Abril, dentre outras.


Em noite de estréia do Freak Show em BH, a rainha-freak-mor estava no palco do Eletronika.
Sen-sa-cio-nal!

O Vanguart, banda de rock vinda do Mato Grosso e despontando no cenário nacional foi a segunda banda da noite, que se apresentou para um público bem mais reduzido, que dispensou as cadeiras e se aglomerou em frente ao palco. Bem jovens, os músicos encabeçados por Helio Flanders, apresentam um som folk rock com versões em inglês e português. A banda nascida em 2002 participa dos principais festivais do Brasil, espaço que vem conquistando de maneira independente com EP’s e um disco de estúdio lançados e com o bom uso da tríade: internet, festivais e shows agitados que garantem um público crescente para a banda.

O fluxo de pessoas reduziu bastante no segundo dia do festival. A isso pode-se atribuir duas coisas, dentre outras, que estão interligadas: o perfil das atrações e o preço dos ingressos. Esses dois fatores associados podem ter causado uma baixa no público que gerou a indagação do músico Curumin, no acender das luzes: “Boa noite BH! Cadê BH?”.

Curumim e Instituto são grandes artistas da música alternativa brasileira, representantes do groove, dub, hip hop e rock brasileiro. Ambos do estado de São Paulo vêm desenvolvendo uma experimentação sonora com ritmos brasileiros e eletrônicos. No circuito alternativo, estes artistas têm um público cativo, mas que não marcou presença em peso no show, sendo provável que uma das razões seja o valor do ingresso (50,00 inteira e 25,00 meia - atrações do Grande Teatro e 20,00 inteira e 10,00 meia – show Sala João Ceschiatti) que restringiu o acesso ao público jovem em geral. Em nenhuma noite do festival houve lotação completa do espaço.

No que tange ao acesso à diversidade e bens artísticos, porém, o Eletronika inovou, trazendo referências mundiais, como a cantora e compositora japonesa Maki Nomiya e a banda indie nova-iorquina Asobi Seksu, atrações que, não fosse o Festival, provavelmente não chegariam a Belo Horizonte.

A presença do público foi maior nas noites com atrações mais pop, que estão na grande mídia e nos principais sites da internet, como Fernanda Takai e o fenômeno teen Mallu Magalhães, que se apresentou no sábado, quando também tocaram Hurtmold, com participação do músico Paulo Santos, do grupo Uakti (!), de Belo Horizonte, e a banda Asobi Seksu. Nesta noite o Festival Eletronika recebeu o seu maior público.



O Eletronika gerou uma ocupação diferenciada do Palácio das Artes, principal centro cultural da cidade de Belo Horizonte, com Grande Teatro, cinema, galerias e teatro para públicos menores. Abrigando um evento totalmente diferente dos padrões tradicionais, a agitação alternativa gerada pelo Eletronika no Palácio das Artes confirmou a versatilidade deste centro cultural que tem uma estrutura adequada para eventos de variados portes e para abrigar diversas expressões artísticas.

Bom por um lado, questionável por outro. Músicas pop, pouco elaboradas harmonicamente e que geralmente são dançantes, em alguns momentos destoaram do ambiente formal do teatro e suas cadeiras fixas. Em compensação, foi única a possibilidade de transitar entre os espaços, sair do show com liberdade para tomar uma cervejinha em um ambiente lounge e retornar quando quiser.

Além do espaço do Grande Teatro, a sala João Ceschiatti foi palco de seis outros shows, que aconteceram na sexta-feira e no sábado em horário anterior às atrações principais. Se apresentaram as bandas Guizado, Pop Armada e M. Takara, de São Paulo, PexbaA e Monno de Minas Gerais e Macaco Bong, do Mato Grosso.

O Festival Imagem dos Povos 2008 – Mostra Internacional Audiovisual veio fortalecer a temática do evento, com a exibição de filmes e debates gratuitos em torno da temática “Japão, Amazônia, Minas Gerais”. Para quem não freqüenta os sempre badalados redutos da música eletrônica e independente da cidade, o Festival Eletronika foi uma boa opção para ver um pouco de tudo e especialmente para se surpreender com a produção musical nipônica.

trechos da análise elaborada para a disciplina de 'organização de eventos' do curso de pós-gradução em gestão cultural da USP, sobre o eletronika - festival de novas tendências musicais, que aconteceu em belo horizonte entre os dias 25 e 27 de setembro em BH. adaptado de lá pra cá

23.9.08

PRIMEIRA ERA


"A primavera é quando ninguém mais espera
E desespera tudo em flor
A primavera é quando ninguém acredita
E ressuscita por amor"


tela de van gogh e letra de zé miguel wisnik (escute essa canção!)
para comemorar o início de mais uma nova era

22.9.08

FURANDO FILA




Outros posts estão sendo elaborados (sem pressa, naquele tempo bom...), mas neste blog onde evita-se a primeira pessoa e as dicas rápidas, também existem exceções. Isso para que você caro leitor que curte uma música da boa, possa aproveitar as mais novas notas musicais.

Novidades na área: Camille inovando mais uma vez e Rodrigo Amarante rompendo as fronteiras geográficas. Ambos esbanjando talento e explorando em inglês novas possibilidades criativas.

Ela está com um site incrível que vai de encontro às suas experimentações artísticas. “Music Hole” revela os potenciais de uma artista em permanente inovação, que neste caso foca nas experimentações vocais, tendo como convidados especiais do disco os brasileiros do Barbatuques (!), além do inglês Jamie Cullum.

Rodrigo Amarante aposta em Little Joy, banda que formou com Fabrizio Moretti, da banda The Strokes e faz um som que é uma “mistura retrô entre os rockinhos do Los Hermanos e uma versão mais lo-fi de Strokes”. De acordo com o resumo de Marcelo Santiago: muito bom! Ouve lá ou baixa aqui.


Depois conta aqui o que você achou?



Tem mais sobre a Camille aqui no blog.

8.9.08

OLHO MÁGICO


Descobrir os sentidos da vida no acaso. Transmitir através de janelas digitais o mundo em forma de arte. Inspiração? “Vem com o outro, é tudo aquilo que não está em mim”. As ferramentas são a fotografia, vídeo, cinema, todos reunidos na instância maior das artes plásticas. Uma multiplicidade de formatos. Assim é o universo do artista visual Cao Guimarães.

O laboratório de azulejo branco na casa do avô, em Belo Horizonte é a lembrança viva do fascínio despertado pela revelação das fotografias e do desejo insuperável de ver as imagens proibidas daquele arquivo médico. Aprendizado e suspense que inspiraram seus primeiros trabalhos, como a primeira exposição, realizada no Itaú Cultural em 1990: “As imagens eram muito impregnadas, mórbidas. Uma época meio dark, eu era jovem, e tinha uma coisa de esconder as imagens, de sobrepor camadas e camadas de imagem na fotografia, para que a realidade desaparecesse em partes”.

Em 1996, Cao Guimarães se mudou para Londres com a mulher – e também artista plástica – Rivane Neuenchwander. Lá, teve acesso a super 8, câmera digital prática e acessível, que se tornou seu instrumento de trabalho. “Em Londres, tinha o filme e a revelação que não existem no Brasil. Havia diferentes tipos de câmeras e até clubes de “super oististas”, onde era possível montar o filme. Eu comprei a câmera de vídeo e filmava o cotidiano daquela cidade, poesia... Você está distante das pessoas que gosta e passa a ter uma visão de fora do seu país, um olhar melancólico pela cidade”. Esse sentimento deu origem a dois trabalhos, “The Eyeland” (Terra do Olho), que remete à ilha da Grã-Bretanha, mas é um trocadilho, uma brincadeira com a palavra ilha, e “Between”, um inventário de pequenas mortes.

Vídeos e instalações trabalhadas no formato digital caracterizam o trabalho de Cao Guimarães. Com esse recurso, ele explora o mundo das mais variadas formas, transformando simples coisas da vida em arte e reflexão. Trabalhos como “Word World“ e “Hypnosis”, têm como protagonistas o trabalho das formigas em busca de doce, o primeiro, e as danças das luzes de um parque de diversões, o segundo. Situações que muitas vezes passariam despercebidas transformam-se em inspiração aos olhos do artista.


No final de 1998, Cao retornou ao Brasil. Um reencontro com a pátria e com novas inspirações. “Quando eu voltei pro Brasil tive a deliciosa sensação de redescobrir o País. Ou seja, o fim de toda aquela sensação de exílio, melancolia da distância”. Dominando as técnicas do super-oito, e da edição não linear, ele partiu para o interior do Brasil à procura de personagens que trabalhavam com profissões extintas, como ascensorista, tocador de sino e parteira.

Ao lado dos parceiros Lucas Bambozzi e Beto Magalhães, ele chegou ao “Fim do Sem Fim”, longa metragem que retrata, entre outras coisas, o povo brasileiro. As filmagens duraram um ano e dois meses, com uma equipe de apenas cinco pessoas. Na verdade, foram muitas mais, até encontrar pessoas que compartilhassem de uma mesma harmonia estética para completar o trabalho. Cao lembra, O Grivo, grupo de música experimental responsável pela trilha sonora de todos os seus filmes: “Eu sou o olho e eles são o ouvido. Isso é o cinema, a imagem e o som”.

Mas nem tudo é imagem em movimento. Em 2001, o artista lançou o livro Histórias do Não Ver, relatos de vários dias em que simulou um seqüestro e fotografou com os olhos vendados. Esse trabalho, apresentado também no formato de instalação, ganhou o Prêmio Aquisição no XVII panorama de arte brasileiro, no MAM (Museu de arte moderna) em São Paulo.

São muitas as referências para conhecer Cao Guimarães e muitas indicações de quem entende do assunto. Os vídeos narrativos “The Eyeland” e “Between” receberam o Prêmio Especial na IV Mostra do Museu de Imagem e Som, realizada em São Paulo em 2000. A instalação “O Sopro” foi vencedora do prêmio” É Cinema”, no segundo Festival Brasil Digital. “O Fim do Sem Fim” ganhou o prêmio” Renovação de Linguagem” em Marseille, na França e o” É Tudo Verdade, no VI Festival Internacional de Documentário. Enfim, um reconhecimento que levou seu trabalho aos quatro cantos do mundo.

Artista em constante renovação, Cao Guimarães não para. Em 2002 lançou o vídeo “Inventário de Raivinhas” e outros trabalhos que você acessa no site. Em 2004 o documentário ”A Alma do Osso”, vencedor do É Tudo Verdade, inaugurou sua trilogia sobre a solidão. “Andarilho” é o segundo da série, em cartaz no Usina Unibanco de Cinema, premiado como Melhor Direção, no Festival do Rio, em 2007; Melhor Filme no Forum.doc, de BH e selecionado para o Festival de Veneza, em 2008. Encerra a trilogia um filme sobre as multidões, que está em fase de produção. Tem que ver e por um olho mágico, descobrir a surpresa reservada para o outro lado.


O texto é de 2002 e o convite é para agora. Duas oportunidades para conhecer parte da obra de Cao Guimarães: Andarilho, em cartaz no Usina Unibanco de Cinema e exposição de artes plásticas no Museu de Arte da Pampulha. ‘Olho Mágico’ foi elaborado para a quinta edição do SOM – Informativo da Fundação de Educação Artística, em 2002. A estréia primeira no jornalismo fica aqui registrada (e brevemente atualizada) para não perder o fio da meada.

imagem 'andarilho' de cao guimarães