Um dia veio a indústria cultural, famigerado conceito que surgiu em meio às teorias filosóficas dos alemães Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, da Escola de Frankfurt, apontando o que seria mais uma forma espúria de se reforçar os valores do capitalismo.
“O rebaixamento do nível da criação humana e a transformação das manifestações mais nobres do espírito em banalidades comercializáveis” eram as indesejáveis conseqüências desse processo. Nesses tempos em que a arte é produto descartável e os artistas reprodutores de fórmulas cristalizadas pode-se perceber a prática legitimando essa teoria.
Mas tudo é indústria e ela mesma, e seus substantivos complementares, a começar pelo capitalismo, sugerem um processo tão estratégico que nunca se encerra: ela se recria, se adapta e ainda assim predomina.
Acrescente-se à essa lógica mutável e dinâmica, a criatividade da arte. Pois bem, esse “detalhe” tem viabilizado ações coletivas rumo a uma recriação de processos e a sustentabilidade da cena da música independente.
Sustentabilidade que vem da consciência das diferentes etapas que precisam ser executadas. Da compreensão da lógica da indústria cultural que se compara à Cadeia Produtiva da Cultura, com as suas etapas organicamente relacionadas de forma que a ordem dos fatores pode até se alternar, mas os resultados sempre levam ao consumo, que estimulam novas criações, e por aí vai.
Hoje, a indústria cultural tem ganhado novas definições e releituras, algumas delas apresentadas por Enrique Saraiva, coordenador do Núcleo de Estudos em Gestão Cultural da FGV/Rio, na comunicação “Notas sobre as Indústrias Culturas”, publicada na Revista Observatório Itaú Cultural.
Nas referências citadas no texto com as derivações sobre o que é indústria cultural ele cita que em todos “aparecem, implícita ou explicitamente, três elementos permanentes: o ato de criação, o suporte tecnológico para sua difusão e o seu lançamento no mercado”. E é justamente a “integração dinâmica desses três elementos que constitui a essência da indústria cultural”.
Esses três elementos são sinônimos das etapas organizadas da cadeia produtiva: produção, circulação e difusão. Etapas que contemplam o trabalho dos artistas e também dos jornalistas, dos produtores, dos patrocinadores, do poder público, dos empresários, do público-alvo, da população de massa, na teoria relacionados, na prática do mercado independente por hora um pouco desarticulados.
Todos essencialmente participantes e geradores da cadeia produtiva, iniciada por artistas que antes nem tinham compreensão de todas essas etapas e agora não só a compreendem como alguns também a executam do início ao fim. "Se o poeta não escrever seu poema, a indústria cultural inexistirá".
Pode ser assim também, mas seria mais eficiente ter os espaços ocupados por diferentes atuando de maneira integrada e complementar. De preferência que sejam espaços apropriados por profissionais que fazem do ofício uma arte, com criatividade suficiente para aplicar doses de autenticidade à lógica mecânica, mas vitoriosa, das indústrias, neste caso culturais.
A comunicação de Enrique Saraiva na rede
2 comentários:
parte do problema em agilizar a cadeia produtiva da cultura está na grande mídia que nao dá espaço para a diversidade cultural.
ps.: o link está quebrado. vc colocou dois "http://".
pois é marcelo, taí: a mídia não dá espaço, mas ocupando nossos lugares a gente mesmo cria as nossas mídias, e aos poucos vamos conquistando um público mais amplo.
acredito que a diversidade cultural, por si só, não contempla grandes massas (os atraentes "mantenedores" da indústria), portanto não é atrativa para a mídia. então, que venham (nossos) outros meios dar conta desse recado!
valeu a dica aí!
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