Se surpreender com os lados de algo mais além da moeda. Perceber que a bomba que explode a cada momento é sim da guerra civil, deixada de lado pelo estado, mas é também de criatividade, de uma ação bem particular que circula nas mãos dos jovens de lá.
O centro perdeu algo que ainda se mantém na periferia. Em que resulta o encontro de jovens neste contexto? O saber vindo da universidade, das vivências do lado mais estruturado da sociedade, sempre tende a se colocar superior. A lógica de um jovem de classe média que sobe a favela, pra ele e pra sociedade, é de que ele vai lá para ensinar, para suprir o que falta. Isso acontece até se perceber a impotência diante de uma realidade que é própria, “nem melhor, nem pior, apenas diferente”, aproveitando o verso do rapper Black Alien.
Em 2007 o projeto se ampliou e na proposta de fortalecer a rede cultural do Aglomerado da Serra, o RedeMUIM ofereceu formação e buscou a participação ativa dos jovens. No caminho dessa meta novos desafios de mobilização, de entendimento conjunto da proposta, de infra-estrutura e preparação técnica.
A mobilização se efetiva basicamente a partir do entendimento da proposta e depois com a disposição e dedicação dos envolvidos para realizar esse ideal. No primeiro caso o RedeMUIM era uma novidade, que atraía pela oportunidade – curso gratuito realizado dentro da comunidade – mas tratava de um universo profissional e de aparatos tecnológicos desconhecidos da maioria dos jovens.
A falta de acesso se revelou um fato. E iniciar os participantes no universo da tecnologia e internet também se tornou um objetivo do projeto, pra driblar a inexperiência dos alunos, principalmente no manejo de softwares de design e site e ao mesmo tempo buscar realizar a demanda do projeto: realizar novas edições do evento Aglomere-se, criar as peças gráficas de divulgação e construir o site do Projeto e o jornal que foi intitulado “Entre Becos e Vielas”.
Em suma, manter equipes de comunicação e produção trabalhando de maneira integrada, realizando ações culturais na comunidade, participando de uma capacitação em processo.
Envolvidos nessa missão estavam os membros do Criarte, que firmaram parceria com a produtora No Ato Cultural para assumir a coordenação de produção e a Ora Boa Arte e Comunicação Social para a coordenação de comunicação, ambas constituídas por recém-formados no curso de Comunicação Integrada na PUC Minas. Uma união de diferentes, atuando juntos e de maneira complementar num projeto que exigiu conhecimentos técnicos trazidos pelos jovens universitários e a criatividade e a experiência coletiva e comunitária vindo com os jovens do aglomerado.
No andar da carruagem, percebeu-se que a capacitação em processo envolvia os participantes, e também os coordenadores, sem exceção. Em cada reunião de definição dos eventos, das pautas do jornal, do conteúdo do site surgia uma surpresa, uma proposta ou uma ação inusitada que revelava o conhecimento e a intenção dos jovens na sua comunidade, mostrava as particularidades e a identidade daquele local.
Foi necessário e imprescindível experienciar os fatos e perceber as manifestações das potencialidades. O pensamento se ajusta, se amplia e se direciona quando é colocado à prova. Realizar o projeto RedeMUIM de Arte e Cultura, unindo saberes, buscando compartilhar técnicas e infra-estrutura, é um aprendizado contínuo, uma experiência satisfatória de perceber aos poucos que a realidade social do asfalto não é a única possibilidade. Outras podem estar em processo de construção.
3 comentários:
Nenhum matemático acreditaria se lesse seu texto que as paralelas se encontram. Exatos, não percebem que o humano é muito mais desafiador e 'transgressor' de todas as regras da natureza (matemática).
Anderson Ribeiro
carentes silvestres assossiados
{informam}
hora de barbarizar pois o ano vai acabar
venha ver meu blog
e deixe uma mensagem de amor...
outra...
gosto tanto quando tem.
bj
Lud, que bacana estes textos. Fico emocionado e feliz por ver você, uma pessoa de opinião brilhante, dedicada e delicada dizer com palavras tão belas o nosso mundo, que na visão de muitos, somos pobres coitados, sem oportunidades na vida, mas mal sabem eles o que se esconde atrás deste barracos. Obrigado e muita sucesso pra vc. Bju!
Ricardo Miranda (Anjos de Metal)
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